'Mulher-Maravilha 1984': novo filme pega carona na ebulição dos anos 80 e reforça luta feminina
FUERTEVENTURA, ILHAS CANÁRIAS* — Anunciado oficialmente no meio de 2017 e com previsão inicial para dezembro de 2019, “Mulher-Maravilha 1984” finalmente chega aos cinemas nesta semana, empurrado por atrasos de produção e, depois, pela pandemia que fechou salas pelo mundo todo.
Orçado em US$ 200 milhões, este será o primeiro grande blockbuster desde a reabertura, o que estimulou a volta de salas que seguiam fechadas no Brasil. Mas a bilheteria, que em condições normais facilmente superaria US$ 1 bilhão segundo especialistas, sofrerá muito: nos Estados Unidos, o filme será lançado simultaneamente nos cinemas e no streaming, pelo HBO Max. A diretora Patty Jenkins, porém, prefere ver o copo meio cheio: para ela, não há momento melhor para a querida personagem da DC Comics voltar a ser vista (leia a entrevista com a cineasta).
Antes de tudo isso, duas primaveras atrás, O GLOBO esteve em Fuerteventura, a ilha do arquipélago das Canárias mais encostada na África — são 100km de distância do Marrocos. O território espanhol se tornou uma espécie de Eldorado de Hollywood, com diversas produções milionárias usando as belezas naturais e os incentivos fiscais da região para rodar seus filmes. “Mulher-Maravilha 1984” foi um deles. Lá, entre uma cena de perseguição no deserto e outra, Gal Gadot surgiu sorridente e à vontade, calçando sandália de dedo, para conversar com um grupo de repórteres de diferentes países.
— Sabemos que o sarrafo está bem alto e teremos que lidar com isso — admitiu, ao falar sobre o sucesso do primeiro filme, que arrecadou US$ 821 milhões em 2017. — Mas gosto de vê-lo como um novo filme, e não uma sequência. Tem todos os elementos necessários para uma boa história, e não importa se você viu ou não o primeiro, é um arco completo.
De fato, “Mulher-Maravilha 1984” tem até mais uma rápida apresentação de Diana Prince quando criança (interpretada pela fofa Lilly Aspell) na ilha de Themyscira, território das amazonas. Lá, mesmo competindo com mulheres adultas, a pequena vence uma espécie de Jogos Olímpicos locais — também filmados em Fuerteventura —, deixando claro seus superpoderes.
Corta a cena e Diana está em plena efervescência cultural e política da década de 1980 — escolhida para o novo filme tanto pelo apelo visual e nostálgico quanto pelo lado político de um período marcado por guerras e movimentos sociais, como o feminista. Setenta anos após cair no Mundo do Homem em plena Primeira Guerra Mundial, ela já está ambientada, trabalhando como arqueóloga no museu Smithsonian, em Washington.
— Diana é bem solitária por não ter as amigas que tinha na ilha e pela morte de Steve (Trevor, seu par romântico no primeiro filme, vivido por Chris Pine). Ela fica na dela, tentando ser agradável e calorosa com as pessoas, mas sem criar laços porque não quer perder mais ninguém — explica a israelense Gal, que atua também como produtora do filme.
Acontece que, enquanto Diana tenta levar uma vida mundana, o empresário Max Lord (vivido por Pedro Pascal) lidera uma enorme conspiração mundial que promete abalar essa tranquilidade. Com um interesse específico no museu onde a mocinha trabalha, ele acaba cooptando a colega de firma de Diana, a tímida e vulnerável Barbara Minerva (Kristen Wiig), e a transforma na supervilã Mulher-Leopardo.
A Mulher-Maravilha, então, se vê obrigada a tirar o mofo de seu traje e botar o Laço da Verdade para trabalhar. Para isso, ela conta com uma inesperada ajuda: Steve Trevor, que teve uma morte dramática no fim do primeiro filme, está de volta.
— Prometo que fará sentido assim que vocês assistirem! — garantiu a diretora Patty Jenkins, vermelha pelo sol quase saariano do set. — Não tem nada a ver com o fato de o personagem ter sido querido pelo público e por isso precisava voltar.
— Patty falou comigo sobre a ideia quando ainda filmávamos o primeiro — fez coro Chris Pine, que vestia no set uma sandália Havaianas preta, aquela com a bandeira do Brasil. — Vamos explorar um lado diferente do personagem. No primeiro, Steve era o realista cansado, tinha visto muita guerra. Era a definição da masculinidade tradicional. Agora, é um jovem, que não mais guia Diana pelo Mundo do Homem, mas é protegido por ela e ama ajudá-la.
Se ainda não é possível garantir que as tiradas feministas da super-heroína, um dos ponto altos do primeiro filme, voltarão, dá para cravar que a representatividade e a mensagem que ela passa ainda são importantes em “Mulher-Maravilha 1984”. Tanto que Patty relativizou o fato de que Diana agora terá que lutar com outra mulher:
— Ter a protagonista e a vilã mulheres, para mim, é o mesmo se fossem homens, e ninguém comenta quando é assim. Eu sou muito consciente sobre a importância política da Mulher-Maravilha, e me orgulho disso. Mas também acho que a fórmula para mudar o panorama é permitir que todo tipo de pessoa possa ser um protagonista completo, o que só vai ser possível se você parar de limitar o que, quem e como.
Curiosamente, um dos momentos de maior empolgação de Gal Gadot no papo com os jornalistas foi quando ela comentou as cenas de ação que dividiu com Kristen Wiig.
— São cenas que nunca tinha visto no cinema. Existe uma diferença em relação a atitude nas lutas, é quase como se estivéssemos em uma dança insana e intensa — comemorou a atriz, agora mãe de duas meninas e consciente da importância para as novas gerações de ter sua personagem no cinema. — Você pode ser o que você vê. Se não vê, não entende como opção.
* Luccas Oliveira viajou a convite da Warner Bros. Pictures
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