Domenico de Masi: sociólogo que morreu neste sábado era amigo ...
Criador do conceito de “ócio criativo” e professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade Sapienza de Roma, Domenico de Masi teve sua morte confirmada neste sábado, cerca de um mês depois de descobrir que tinha uma doença invasiva, segundo agências de notícias italianas. Amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem visitou na cadeia, em Curitiba (PR), em 2019, o sociólogo italiano é também escritor e, em 2010, se tornou cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro, como recompensa a seu amor pelo Brasil.
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Ao deixar a prisão de Curitiba, De Masi declarou que a prisão não mudou em nada o prestígio de Lula no exterior. Para ele, petista continuava sendo uma grande liderança do mundo, "talvez a maior de todas". No ano seguinte, auge da pandemia de Covid 19, o sociólogo não poupou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Da Masi declarou que o Brasil poderia ter evitado muitas mortes, mas não aprendeu com o que houve na Itália — um dos primeiros países a serem duramente atingidos pela doença.
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De Masi ficou famoso ao publicar o best seller "Ócio Criativo", em 2000. A obra causou polêmica, por defender que o ócio tem seu lado positivo, porque estimula a criatividade pessoal. Nascido em Rotello, em 1938, ele escreveu outras obras, como "Desenvolvimento Sem Trabalho", "A Emoção e a Regra" e "O Futuro do Trabalho".
De Masi dedicou boa parte da sua obra a questões como o trabalho. Segundo ele, dos ateliês renascentistas à uberização dos serviços, o trabalho sofreu inúmeras transformações. Em “O trabalho no século XXI” (Sextante, 2022), ele mostra como, ao longo dos séculos, o trabalho espelhou nossos anseios e esperanças. E ele mesmo testemunhou as diferentes transições do trabalho, participando ativamente tanto de um milenar sistema rural quanto de uma bicentenária ordem industrial — e, agora, de um inédito advento pós-industrial.
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No livro, De Masi analisou o declínio da perspectiva industrial na economia e defendeu uma produção mais inteligente, livre e flexível, que valorize a felicidade humana.
— Com o aumento da produtividade, a relação entre o tempo de trabalho e o tempo livre mudou, em favor deste último. Durante sua vida, meu avô trabalhou 120 mil horas, meu pai 80 mil e minhas filhas trabalharão 40 mil. Hoje, um italiano tem cerca de 640 mil horas de tempo livre, que ultrapassará 700 mil em 2030. Como viemos de dois séculos de sociedade industrial centrada no trabalho, ainda não nos conscientizamos da importância do ócio criativo. Mas a pandemia nos permitiu refletir e produziu o fenômeno da “The Great Resignation” (a grande renúncia, em português), que se prolongará nos próximos anos — disse ele em entrevista ao GLOBO em 2022.
Amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem visitou na cadeia, em Curitiba (PR), em 2019, o sociólogo também havia se tornado, em 2010, cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro, como recompensa a seu amor pelo Brasil. Em junho, durante viagem a Roma, Lula tirou um dia para compromissos pessoais, incluindo um encontro com Domenico de Masi.