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Justiça da Suíça anula condenação de Cuca por estupro

Justiça da Suíça anula condenação de Cuca por estupro
Tribunal decide anular sentença porque treinador foi julgado à revelia, sem advogados de defesa. Decisão não entra no mérito da inocência ou da culpa do técnico em caso ocorrido em 1987

Uma decisão do Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, tornada pública nesta quarta-feira, anulou o caso contra Cuca, que em 1989 havia sido condenado pelos crimes de coação e ato sexual com menor – ocorridos em 1987, durante uma excursão do Grêmio pela Europa.

1 de 2 Cuca disse estar aliviado com a anulação da condenação — Foto: Marcos Ribolli

Cuca disse estar aliviado com a anulação da condenação — Foto: Marcos Ribolli

A informação foi publicada inicialmente pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo ge. Além da anulação do caso, o tribunal decidiu indenizar Cuca em 9,5 mil francos suíços (cerca de R$ 50 mil).

A decisão do Tribunal – que não entrou no mérito da questão, portanto não inocentou Cuca – concordou com o argumento apresentado pela defesa do ex-jogador. Ela defendia a anulação alegando que o julgamento de 1989 se deu à revelia, sem que o réu estivesse presente e sem que seus advogados pudessem defendê-lo.

– Hoje eu entendo que deveria ter tratado desse assunto antes. Estou aliviado com o resultado e convicto de que os últimos oito meses, mesmo tendo sido emocionalmente difíceis, aconteceram no tempo certo e de Deus – declarou Cuca, por meio de uma nota distribuída por sua assessoria.

Em abril, pressionado, Cuca entregou o cargo no Corinthians após dois jogos

Em abril, pressionado, Cuca entregou o cargo no Corinthians após dois jogos

O documento menciona que os depoimentos de testemunhas foram fundamentais para a condenação, mas Cuca não estava presente, nem representantes dele. Portanto, a defesa não pôde questionar ou contestar as testemunhas.

A defesa pediu a realização de um novo julgamento. Consultado pelo tribunal, o Ministério Público da Suíça opinou que o caso já estava prescrito, e que não era o caso. A vítima, que em 1987 tinha 13 anos, morreu em 2002, aos 28. Consultado, um filho dela não quis participar do processo.

A presidente do tribunal, Bettina Boschler, decidiu então pela anulação do caso. Em teoria, até cabe recurso a essa decisão, mas nenhuma das partes está interessada em recorrer – nem Cuca, nem o Ministério Público da Suíça.

Entenda o caso

O caso teve início em 1987, quando o Grêmio fazia excursão pela Europa. Cuca e outros três atletas – Henrique Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi – foram detidos com a acusação de terem tido relações sexuais com a garota sem consentimento.

Segundo a investigação da polícia local, a jovem se dirigiu com amigos ao quarto dos jogadores do Grêmio. Os atletas, então, a puxaram para dentro do quarto. Cuca sempre negou ter participado do estupro.

Em apresentação ao Corinthians em abril de 2023, Cuca fala sobre a condenação que foi anulada

Em apresentação ao Corinthians em abril de 2023, Cuca fala sobre a condenação que foi anulada

Os quatro jogadores foram presos no dia 30 de julho de 1987, horas depois do crime. Eles permaneceram em presídios diferentes durante a investigação do caso.

Após um mês presos, os quatro atletas pagaram fiança de 15 mil francos suíços e voltaram ao Brasil. Eles não estiveram presencialmente no julgamento do caso, realizado dois anos depois, em 14 e 15 de agosto de 1989.

Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão, pelos crimes de coação e ato sexual com menor. Fernando foi condenado apenas por coação, a uma pena de três meses de prisão.

Os quatro receberam uma pena condicional que faz parte da legislação da Suíça – quando o condenado não tem de ir para a prisão, a não ser que cometa algum outro delito durante um prazo determinado pelo juiz. O período prescreveu.

Sem julgamento do mérito

Para formular o pedido de um novo julgamento, a defesa de Cuca teve acesso ao processo de mais de mil páginas, que estava sob guarda dos Arquivos do Estado do Cantão de Berna.

Em abril de 2023, a diretora da instituição, Barbara Studer, afirmou em entrevista ao ge que o processo provava que havia sêmen de Cuca no corpo da vítima – e que a vítima o havia reconhecido durante a investigação do caso.

2 de 2 Barbara Studer é diretora do Arquivo de Berna — Foto: ge.globo

Barbara Studer é diretora do Arquivo de Berna — Foto: ge.globo

No recurso para reabrir o caso, essas questões não foram analisadas. A decisão que anulou o caso se centro na falta de representação legal de Cuca durante o julgamento de 1989.

Passagem-relâmpago pelo Corinthians

A contratação de Cuca foi anunciada pelo Corinthians, seu último clube, no dia 20 de abril de 2023, dando origem a uma onda de protestos. Parte da torcida do Timão não aceitou o acerto por causa da condenação por ato sexual com menor e coação em 1989, na Suíça. A diretoria dizia acreditar na inocência do treinador, que assim se declara.

Na apresentação, Cuca disse que por três vezes não havia sido reconhecido pela garota como um dos abusadores, o que foi desmentido pelo advogado da vítima, o suíço Willi Egloff.

Com a pressão cada vez maior, Cuca pediu demissão no dia 27 de abril, logo após a vitória do Corinthians nos pênaltis sobre o Remo, na Neo Química Arena, pela terceira fase da Copa do Brasil.

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