Racismo, transfobia e trabalho escravo: relembre vezes em que a Zara ganhou a mídia
O caso de racismo mais recente associado à Zara está sendo apurado em um inquérito policial. Uma loja da rede, no shopping de Fortaleza, no Ceará, emitiria um sinal sonoro, alertando quando pessoas pretas entrassem no local. A prática veio à tona quando a delegada Ana Paula Barroso, que é negra, foi impedida de entrar no estabelecimento, no último dia 14 de setembro. No entanto, essa não foi a primeira vez em que a grife ganhou a mídia por discriminação.
No ano passado, um jovem de 17 anos foi vítima de racismo na loja do Shopping Ibirapuera, em São Paulo. O caso ganhou as redes por intermédio do movimento #TireORacismoDaVitrine. O rapaz teria sido abordado enquanto experimentava roupas, sob suspeita de que teria a intenção de roubar algo. A mãe dele entrou na Justiça contra a loja.
Também em 2020, ex-funcionárias acusaram a Zara de transfobia e racismo. Pelo Twitter, Alina Durso, de 20 anos, e Jade Aza, de 19, contratadas por meio de um programa para inclusão social, contaram que viveram quatro meses em um "ambiente nocivo", onde as suas identidades de gênero não eram respeitadas.
NOS AJUDEM A DAR VISIBILIDADE AO CASO
mês da visibilidade trans, e viemos expor o que passamos
que nenhuma outra travesti seja desrespeitada dentro daquela e qualquer outra empresa. #TransfobiaNaZara #RacismoNaZara pic.twitter.com/AM0acwCmwf
—A marca também já foi associada ao trabalho forçado. Em 2014, a Zara admitiu a ocorrência de trabalho escravo na fabricação de seus produtos em 2011, ano em que uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 15 imigrantes costurando peças da marca em três oficinas terceirizadas, em Americana (SP) e São Paulo (SP).
Na época, a empresa se justificou afirmando que não monitorava seus fornecedores. Apesar disso, toda a empresa no topo da cadeia é responsável pela violação de direitos trabalhistas dos terceirizados ou subcontratados. É o que estabelecem as melhores práticas ambientais, sociais e de governança, também conhecidas como ESG (Environmental, Social and corporate Governance).
— O lado social acaba sendo deixado de lado pelas empresas, muitas vezes, por ser mais intangível do que o ambiental. Quanto vale a diversidade para uma companhia? E a satisfação do colocaborador? Existem estudos que mostram que isso tem impacto financeiro na empresa, mas é difícil de mensurar — comenta Maria Eugenia Buosi, CEO da consultoria Resultante ESG: — Não adianta fazer a coisa certa e comprar de quem não faz. As companhias precisam ir além e olhar a cadeia de valor.
O EXTRA procurou a Zara e aguarda uma resposta.
Não é só no BrasilProblemas semelhantes no exterior também já foram tópico da imprensa e causaram repercussão nas redes sociais. Em 2014, a Zara teve que retirar do mercado espanhol uma camiseta infantil de listras, que tinha uma estrela amarela bordada, assemelhando-se aos uniformes que os judeus usavam nos campos de concentração nazistas.
Em 2015, o Centro de Democracia Popular (CDP) — organização americana de alto impacto que trabalha para transformar o cenário das políticas locais e estaduais — entrevistou 251 funcionários da Zara em Nova York e revelou uma prática de prevenção de perdas, semelhante à que está sendo descoberta no Brasil. Caso um cliente parecesse "suspeito" ao entrar na loja, ele seria acompanhado por um funcionário. Porém, entre os entrevistados, 46% afirmaram que os consumidores negros eram os mais rotulados pela desconfiança.