Por onde anda Tobey Maguire e o elenco de ‘Homem-Aranha’ (2002)?
Estagnada mas nunca esquecida, essa é a volta da coluna “por onde andam?”, tão amada por você nosso querido leitor. Recebemos muitos e-mails, mensagens no Facebook, Instagram e WhatsApp pedindo por uma nova matéria desta coluna. E que filme melhor para dar continuidade a ela, depois de um breve hiato, do que Homem-Aranha, de Sam Raimi, o longa que mais forte deu o chute inicial para esta nova era que temos hoje do subgênero de super-heróis e que completou 16 anos de lançamento este mês – pois é.
Além disso, a nova “por onde andam” veio bem a calhar, coincidindo com o lançamento de Homem-Aranha: Longe de Casa, que traz o nosso cabeça de teia Peter Parker nas formas de Tom Holland. Aqui, no entanto, voltaremos à sua personificação original, como Tobey Maguire. Vamos lá.
Muitos podem não saber, mas a Marvel passou por uma epopeia até se tornar a maior potência, não só do subgênero, mas como do cinema pipoca da atualidade. Uma boa leitura para ficar por dentro do assunto é Marvel Comics – A História Secreta, de Sean Howe. No livro, temas como a quase falência da empresa são abordados. O que levou à venda de seus principais personagens para grandes estúdios produzirem superproduções. Funcionou momentaneamente, e ocasionou uma reviravolta positiva para a empresa. Nesse processo, o Homem-Aranha ficou com a Sony, então Columbia Pictures, e quase foi produzido com James Cameron na direção e Leonardo DiCaprio como o herói. Imaginem Schwarzenegger como o Doutor Octopus.
Para o bem ou para o mal, Tobey Maguire, então com 27 anos, interpretou o colegial Peter Parker. O filme perpassa rapidamente pelos anos escolares, incluindo uma viagem de turma ao laboratório que o transforma no superpoderoso herói, e depois já o tem tirando fotos num jornal. Maguire parece ter sido a escolha perfeita e até hoje possui seus admiradores, que o enaltecem como melhor Parker possível mesmo com a dancinha ridícula no terceiro. Antes do blockbuster, Maguire já havia chamado atenção no circuito independente com filmes como Tempestade de Gelo (1997), A Vida em Preto e Branco (1998) e Regras da Vida (1999).
Desde o término de suas obrigações como o Homem-Aranha, em 2007, Maguire apareceu em pouquíssimos filmes, cinco para ser preciso, e uma minissérie cômica – dentre os quais o mais conhecido é a reimaginação de O Grande Gatsby (2013). O ator emprestou sua voz para a animação O Poderoso Chefinho, na qual dublou Tim adulto, o narrador da história.
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A escolha para a personagem no primeiro filme foi inusitada, já que os fãs do herói não abrem mão do cânone de seu primeiro grande amor perdido, Gwen Stacy. A personagem viria a aparecer no terceiro longa da franquia, e no reinício O Espetacular Homem-Aranha (2012). Embora tenham acertado na escolha (com Emma Stone protagonizando), ninguém deu muita bola. Aqui, é Mary Jane a opção, a vizinha de Peter e primeiro amor – assim diz Raimi. Para o papel, surge a ex-atriz mirim Kirsten Dunst, cuja primeira aparição nas telonas em Entrevista com o Vampiro (1994) foi nada menos que marcante. Ao menos ela teve mais sorte do que Shailene Woodley, que, deletada de sua participação como Mary Jane nos filmes de Marc Webb, jamais poderá ser vista. Atualmente, uma versão mais antenada etnicamente foi abordada, com a carismática Zendaya no papel em Homem-Aranha: De Volta ao Lar e Longe de Casa.
Aqui, Dunst adentrava nova fase da carreira e era vista pela primeira vez de forma unânime como uma bela jovem mulher. A naturalidade e química com Maguire foram o que a conseguiram o emprego. Porém, assim como Maguire, a carreira de Dunst parece ter sido afetada pela fama colossal proporcionada pelo longa, e isto talvez a tenha traumatizado. Desde então, ela vem se mantendo fora dos holofotes e tem optado trabalhar com cineastas renomados em filmes menores. Melancolia (2011), Destino Especial (2015) e O Estranho que Nós Amamos (2017) são exemplos disso. A atriz também participou da segunda temporada da série de sucesso Fargo (2015) e seu último trabalho lançado foi o terror de arte Woodshock (2017).
Atualmente, ela estrela a elogiada série ‘On Becoming a God in Central Florida’ (2019), exibida no canal Showtime.
Willem Dafoe (Duende Verde / Norman Osborn)Mais de dez anos antes da participação relâmpago de um Chris Cooper acamado e moribundo na pele do arqui-inimigo Norman Osborn, identidade secreta do Duende Verde (que é para o Homem-Aranha, o que o Coringa é para o Batman), Willem Dafoe casava como uma luva no personagem. Além de ter sido um dos melhores antagonistas de um filme na história do subgênero, destruindo com sua atuação nas cenas dramáticas de esquizofrenia, quando o personagem trava embates consigo mesmo, Dafoe estava numa forma física tão ridiculamente confortável, que dispensou dublês para suas performances com o vilão já mascarado.
Dafoe, é claro, já era um ator renomado a esta altura, e serviu como peso ao elenco jovem. Algo como Jack Nicholson no Batman de Tim Burton, filme que iniciou a tendência de se ter o maior nome do elenco interpretando o antagonista. O ator já tinha duas indicações nas costas antes do filme, e recentemente engavetou mais uma este ano, por Projeto Flórida. Fora isso, Dafoe esteve em Onde Está Segunda?, da Netflix, e no novo Assassinato no Expresso do Oriente, ambos de 2017. O veterano talentoso também estrelou em uma superprodução da rival DC, como Nuidis Vulko em Aquaman, de James Wan.
Após o elogiadíssimo O Farol (2019), Dafoe retorna em Aquaman 2 (2022).
Na versão do Homem-Aranha na Marvel, nem Harry Osborn, nem Gwen Stacy deram as caras ainda. Mas no equívoco duplo do diretor Marc Webb, Harry ganhou vida nas formas de Dane DeHaan. Mais fiel aos quadrinhos, um então desconhecido James Franco era a imagem escarrada do filho de Willem Dafoe. O triângulo amoroso construído entre ele, Peter e MJ resvala ao longo da trilogia, assim como a subtrama envolvendo a morte de seu pai pelas mãos do Homem-Aranha, a quem Harry vê como o vilão da história, sem saber na verdade se tratar do alter ego de seu melhor amigo. Se isso não é drama Shakespeariano, eu não sei o que é.
Franco ficou conhecido com o filme, e desde então se tornou figura fácil no segmento independente, estrelando diversas produções e inclusive estreando como diretor. Dono de projetos conceituais e até difíceis de consumo pelo grande público, o ator já soma 38 créditos como diretor, entre longas, curtas, documentários, episódios de séries de TV e filmes feitos para a TV. Fora isso, tem obras cultuadas no currículo pós-Homem-Aranha, vide 127 Horas (pelo qual foi indicado ao Oscar) e Spring Breakers – Garotas Perigosas, de Harmony Korine. Franco também é dono de constante parceria com Seth Rogen, amigo pessoal, com quem trabalhou em comédias escrachadas como Segurando as Pontas (2008) e É o Fim (2013). Recentemente, recebeu inúmeros elogios da imprensa especializada por seu último trabalho, a homenagem O Artista do Desastre – indicado para melhor roteiro original no Oscar.
J.K. Simmons (Comissário Gordon JJ Jameson)Simmons sempre foi aquele ator coadjuvante de luxo, que jurávamos já ter visto, mas não sabíamos muito bem onde. Sua caracterização como o editor linha dura do Clarim Diário foi tão certeira, que nenhuma outra produção do Aranha, até o momento, se atreveu a substituí-lo. Bem, o próprio ainda deseja voltar ao papel. Ainda mais depois de ver o resultado de sua participação como o Comissário Gordon dos novos filmes da DC, tendo estreado em Liga da Justiça (2017). Se arrependimento matasse…
O ator também, é claro, venceu o Oscar de coadjuvante na pele de outro tutor linha dura, o professor de música Fletcher, na obra-prima de Damien Chazelle, Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014). Ele faz uma participação especial em Homem-Aranha: Longe de Casa.
A escolha de elenco para Homem-Aranha foi perfeita. Poucos filmes do gênero souberam representar de forma tão impressionante os personagens dos quadrinhos em live action. Já citamos Willem Dafoe como Osborne e Simmons como Jameson, mas não bastasse isso, Sam Raimi fechou o caixão com este último prego, Rosemary Harris como a adorável tia May. Não tem para ninguém. Não tem para Sally Field como uma May mais avoada, nem para Marisa Tomei como a hot May. Harris é a encarnação definitiva da personagem. Se ao menos ela pudesse ganhar aquela torradeira. A atriz é uma veterana, tendo iniciado a carreira ainda na década de 1950, e possui 60 créditos em sua filmografia. Um de seus últimos trabalhos conhecidos foi a comédia de espionagem Guerra é Guerra (2012). Ela ainda está em atividade.
Cliff Robertson personificou a imagem do doce e conselheiro tio Ben. Ele foi o responsável por imortalizar a frase: “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. Como todos sabem, o mentor e figura paterna de Peter Parker precisa ser assassinado para que o herói aprenda uma grande lição. Na nova encarnação do Aranha, já na Marvel, não fica 100% clara a existência ou perda do personagem, tudo é muito sutilmente pincelado. Robertson, falecido em 2011 aos 88 anos, não era muito parecido com sua contraparte nas telas, na vida real. Quem já assistiu ao documentário De Palma (2015), sobre o lendário cineasta Brian De Palma, sabe das “travessuras” que o veterano ator aprontou durante as filmagens de Trágica Obsessão (1976), tornando a vida do diretor e de seus companheiros de cena bem difícil. Homem-Aranha 3 (2007) foi seu último trabalho no cinema – o personagem volta em forma de flashback.
Bem, se a DC ainda não é conhecida por roubar os atores da Marvel, ela ao menos pode ser conhecida por recolher os atores desta que é uma das primeiras grandes produções da fase de prata dos quadrinhos no cinema. Willem Dafoe em Aquaman, Simmons como Gordon e agora temos o fortão Joe Manganiello, que viveu o bully Flash, trocando de lado e se tornando o vilão Exterminador, o mercenário mais cultuado da casa. Um vídeo seu caracterizado como o inimigo havia vazado na internet – se tratava de um teste.
Mas como pudemos ver na cena pós-créditos de Liga da Justiça (2017), Manganiello aparece com as vestimentas, tapa olho e barba branca do criminoso em uma reunião no iate de Lex Luthor (Jesse Eisenberg). Especula-se que ele será a grande ameaça, ou uma das, em The Batman, filme nebuloso sobre o herói da empresa, que tem Matt Reeves na direção e se encontra em fase de pré-produção. São prometidas também duas outras aparições do personagem, em Liga da Justiça- Parte 2 e num filme solo. O ator, marido de Sofía Vergara na vida real, e esteve no elenco do blockbuster Rampage: Destruição Total.
Bill Nunn (Joseph ‘Robbie’ Robertson)Outro ator que infelizmente não está mais entre nós, Bill Nunn faleceu jovem aos 62 anos em 2016. Com uma carreira datando do início da década de 1980, Nunn ficaria marcado como o personagem Radio Raheem no hino essencial de Spike Lee, Faça a Coisa Certa (1989). Na pele de Robbie, jornalista veterano do Clarim Diário, presente em várias encarnações do herói, seja nos quadrinhos ou nos desenhos animados, Nunn refletiu a amizade e cumplicidade do personagem em relação ao jovem Parker. Em alguns momentos durante a trilogia, detalhes deram a entender inclusive que Robbie sabia da dupla jornada do protagonista. Os últimos trabalhos do ator foram as participações no filme A Luta por um Ideal (2012), com Viola Davis e Maggie Gyllenhaal; e na série Sirens.
Atriz e diretora estabelecida, Elizabeth Banks é ativista de causas das mulheres. Muito ligada ao feminismo e à representatividade por direitos igualitários, Banks começou a carreira na pele da secretária Betty Brant, que nos quadrinhos tinha uma quedinha por Peter. Nos filmes, o afeto pelo protagonista também se faz presente. Mas não pense que a personagem é subestimada – ela chega dando conselhos ao herói e mantendo a disciplina do chefe autoritário, inclusive rendendo momentos hilários no terceiro filme, na cena com os remédios do patrão.
Como atriz, Banks é mais adepta do cinema independente, apesar de já ter se aventurado outras vezes pelo mainstream. A mais famosa delas foi como Bozolina Effie, da franquia Jogos Vorazes (2012-2015). Ano passado foi a vez dela se tornar a vilã, na pele de uma mais jovem e recauchutada Rita Repulsa, em Power Rangers. Como diretora, ela está vinculada ao novo As Panteras, que terá Kristen Stewart como uma das três protagonistas.
Como a trilogia foi dirigida por Sam Raimi, amigo de longa data do ator Bruce Campbell, sua participação nos três filmes estava mais que garantida. A parceria da dupla começou lá atrás, com o primeiro filme de ambos, o terror Evil Dead – A Morte do Demônio (1981), filme de conclusão de curso, realizado entre amigos. Este filme também se tornou uma trilogia, e Campbell ficaria imortalizado numa simbiose como o herói canastrão Ash. Nos filmes do Homem-Aranha, o ator faz participações, sempre hilárias, a cada filme interpretando novo papel.
No primeiro, ele é o anunciante da luta que Parker faz para ganhar dinheiro, e é através de um equívoco seu que nasce o nome Homem-Aranha. Na continuação, de 2004, ele vive o porteiro da peça de Mary Jane, que não deixa o herói adentrar, e no terceiro, o maître trapalhão de um restaurante chique. Campbell reviveu Ash na série Ash VS Evil Dead, produzida por Raimi, que durou três temporadas, e infelizmente chegou ao fim.
Como dito no item acima, o diretor Sam Raimi começou a carreira em filmes de terror. Seu desejo por comandar um filme de super-herói ficou claro logo de início também. Sem os direitos para tal, resolveu criar seu próprio em parceria com a Universal. Desta forma, nascia Darkman – A Vingança Sem Rosto (1990), com Liam Neeson e Frances McDormand, um longa que tem filme de origem de super-herói escrito nele todo. Depois do terceiro filme do Homem-Aranha, de 2007, voltaria às raízes com o hilário e assustador Arraste-me para o Inferno (2009). Seu último filme na direção foi o blockbuster que veste com nova roupagem um dos maiores clássicos da sétima arte, Oz: Mágico e Poderoso (2013), pré-sequência de O Mágico de Oz (1939).
Ele fará seu grande retorno na direção de Doutor Estranho 2 (2022).
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