Vacina brasileira: pesquisadores da UFMG avançam para testes pré-clínicos
O CTVacinas deve realizar testes em primatas nos próximos dias para depois partir para testes em humanos
Os cientistas do Centro de Tecnologia em Vacinas (CTVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), deram um passo decisivo para o primeiro imunizante brasileiro contra a COVID-19. Eles devem iniciar os testes com primatas, nos próximos dias, e, se tudo der certo, iniciarão o ensaio clínico, quando o imunizante é testado em humanos. “Estamos preparando a documentação para obter autorização na Anvisa para fazer testes em humanos. Os primeiros testes clínicos. É um processo muito cuidadoso”, afirma a professora Santuza Teixeira, membro da equipe do CTVacinas e professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.
No entanto, em decorrência de a pandemia ter causado a morte de 2,7 milhões de pessoas, há uma corrida mundial pelas doses dos imunizantes, uma das formas de reduzir a gravidade da doença e de uma possível freada na transmissão com o aumento no número de imunizados.
Fases do ensaio clínico
A pesquisadora do CTVacinas lembra que o desenvolvimento de vacinas é um processo demorado. No entanto, os cientistas da UFMG têm obtido resultados promissores nesse desenvolvimento de um imunizante. Santuza explica que os testes em primatas foi uma exigência da Anvisa e devem ter início nos próximos dias. Considerados grupos controle e teste, dez macacos devem passar pelo teste.
O próximo passo será o ensaio clínico dividido em três fases. Em teste clínico em humano, a fase 1, em que se avalia segurança, serão necessários 20 voluntários. Os testes de fase 2, que avaliam a capacidade de resposta imune, são de 100 a 200 voluntários. A fase 3 o número de voluntários salta para a casa do milhar. “Para uma vacina ser aprovada precisa seguir uma série de etapas. Quer começar a fazer testes em voluntários. Essa fase está acontecendo agora. É uma exigência da Anvisa fazer testes em primatas não humanos. Então, nós estamos com esse processo agora”, revela a pesquisadora.
A vacina emprega a tecnologia de proteína recombinante quimérica. "A proteína é produzida em laboratório, utilizando o sistema de expressão heteróloga, ou seja, usamos células cultivadas em laboratório para produzir proteína de vírus sem precisar cultivar o vírus. Por isso, é chamada de recombinante.
Vacinas aprovadas pela Anvisa
As vacinas aplicadas no Brasil são de tecnologia internacional, embora o envase das doses seja realizado em laboratórios brasileiros. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro de três vacinas contra a COVID-19, a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan; a européia AstraZeneca/Oxford, e a do laboratório norte-americano Pfizer.
A AstraZeneca/Oxford recebeu autorização para uso emergencial em 17 de janeiro e o registro definitivo em 13 de março. A Jassen ainda não pediu o registro temporário nem o definitivo. A Pfizer conseguiu o registro definitivo em 23 de fevereiro. A Sinovac recebeu o registro emergencial em 17 de janeiro e ainda não solicitou o definitivo.
A agência explica o processo. O estágio inicial é restrito aos laboratórios, a partir da análise do agente causador da doença. No caso da COVID-19, o novo coronavírus. Posteriormente, a vacina é posteriormente testada em animais, que são expostos ao agente causador da doença, para verificar a capacidade de induzir o animal a produzir anticorpos. De qualquer modo, para que sejam iniciados os estudos em humanos, é preciso ter em mãos dados preliminares de segurança e possível eficácia.
Embora muitas prefeituras tenham iniciado tratativas com a Embaixada da Rússia para a compra da Sputnik V, a vacina não aparece no quadro de análise da Anvisa. O pedido de anuência do estudo ainda está em avaliação e não é uma vacina em teste no Brasil.
A reportagem entrou em contatao com a Anvisa, que até o momento não retornou.