Sadio Mané: 'Eu não vou ser agricultor. Vou ser jogador de futebol internacional'
Jogadores são contratados pelo que fazem em campo. E Sadio Mané, atacante do Liverpool, não deixa a desejar: é um dos principais nomes do vencedor da última Liga dos Campeões, autor de 13 gols em 24 partidas nesta temporada. Mas não foram apenas os atributos do senegalês dentro das quatro linhas que chamaram a atenção de Jürgen Klopp. O técnico alemão se interessou particularmente pela personalidade do ponta de 27 anos, em Anfield desde 2016.
É fácil entender o motivo. Mané desconstrói vários dos estereótipos do jogador de futebol no século XXI, a começar pela sua relação com a religião. Ele nasceu em Bambali, uma pequena vila ao sul de Senegal, onde seu tio exercia o papel de imã na mesquita local. Pouco depois de sua chegada à Inglaterra, um repórter viajou à região e ouviu de moradores que Mané havia patrocinado a reforma do local. Também por conta da religião, o jogador passa longe de bebidas alcoólicas.
"Eu não toco em álcool. Religião é muito importante para mim. Eu respeito as regras do islã e rezo cinco vezes por dia, sempre", contou ele ao "Daily Mail".
Mas ele não foge às marcas da ascensão social proporcionada pelo mundo da bola. Meninos pobres e talentosos são tratados como solução de famílias numerosas e de poucos recursos. Com Mané não foi diferente. No Senegal, sua mansão, construída ao lado do barraco onde vivia, abriga mais de 40 familiares: de irmãos aos avós. Todo mundo junto, como manda a tradição local.
Ele, porém, passa pouco tempo nesse ambiente onde o almoço vira banquete para alimentar tantas bocas. Desde os 15 anos, a contragosto da mãe, deixou o país. Hoje está a mais de 5 mil quilômetros da sua cidade natal. Mas Mané continua presente, de certa forma. As humildes casas e estabelecimentos locais não esquecem seu filho ilustre. Pôsteres do jogador servem de decoração e de lembrança: "Filho de Bambali, orgulho de uma nação inteira", está inscrito.
Nas ruas, as crianças exibem suas camisas do Liverpool com o nome de Mané. A confirmação de uma espécie de profecia feita por ele mesmo anos atrás, quando se dividia entre o futebol e os afazeres do campo.
"Me lembro dele dizendo: 'Todos os dias tenho que sair para o campo", disse Bacary Diatta, amigo de longa data ao "The Athletics".
Mané também é um contraponto aos superastros que parecem cada vez mais distantes de uma representação em carne e osso. O senegalês é uma das figuras mais populares em Melwood — o centro de treinamento do Liverpool —, um colecionador de amigos por conta de sua simpatia e humildade.Foram essas características que o mantiveram no propósito de se tornar uma estrela do futebol. Para quem, no primeiro momento, precisou fugir de casa a fim de jogar futebol em Dakar, capital do Senegal, ter uma rede de apoio fora do seio familiar foi fundamental.
Por isso, a saída do seu primeiro clube, o francês Metz, foi traumático. Sem poder de escolha, aos 20 anos, ele foi vendido para o Red Bull Salzburg, da Áustria. Deixou seus amigos do futebol, a maioria também africanos, e foi se aproximando cada vez mais da Inglaterra.
"Naquele dia, chorei como uma criança", lembrou ele em entrevista ao francês "Canal +".
Foi, porém, na fria cidade austríaca que se deu a formação e a visibilidade de Mané para os principais centros do futebol europeu. O Southhampton foi o trampolim final para o Liverpool. Ali, com gol no final da Champions de 2018 e o título da competição no ano passado, o menino de Bambali ganhou o mundo.