Pitty celebra 20 anos do álbum 'Admirável Chip Novo' com turnê
Foi em 2003 que Pitty fincou seu lugar no rock nacional com o lançamento do álbum de estreia, Admirável Chip Novo. Não demorou para que canções como “Equalize”, “Teto de Vidro” e “Temporal” fossem tocadas à exaustão, levando a cantora a conquistar o Disco de Platina pela venda das 250 mil cópias, a categoria Revelação no Prêmio Multishow de Música Brasileira e ter o clipe da faixa-título como o mais pedido do ano na MTV.
Em uma época em que o axé predominava nas rádios, Pitty ganhou projeção em um meio ainda muito masculino. “Não queria ser homem, queria a liberdade que tinham”, relembra ela. Naquele tempo, a cantora e compositora baiana não fazia ideia do que era o feminismo, e hoje, aos 45 anos, levanta a bandeira da linha interseccional – a que compreende que as opressões de gênero, classe e raça se relacionam e interferem na vida das mulheres.
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Pitty — Foto: Bruno fujii
Pitty chega à nova turnê comemorativa – ACNXX –, depois de uma temporada de shows do EP Casulo e do projeto PittyNando, ao lado do músico Nando Reis, ambos de 2022, e do disco Matriz (2019). “Gosto da minha trajetória. Errei e acertei nas minhas escolhas, mas nunca fiz nada que não pudesse bancar.”
MARIE CLAIRE Como se sente ao revisitar as músicas para preparar os shows da nova turnê?PITTY Ainda completamente pertencente àquilo que está sendo dito. Isso é raro porque, com o tempo, a gente muda e é normal, mas, quando penso nas letras do Chip Novo, continuam coerentes para mim.
MC Todas as faixas foram escritas quando você tinha 25 anos. As letras contam histórias que você mesma viveu? P Essas letras têm um tanto de pesquisa [fruto do seu período na faculdade de música], de questões autobiográficas e questionamentos como, que tipo de sociedade estamos criando? E há letras inspiradas na literatura, no cinema e no surgimento da internet. Falava sobre equidade de gênero, questões raciais, de identidade e orientação sexual.
MC Então, sempre teve uma consciência feminista? Inclusive chegou a ter uma banda só de mulheres.P Não existia consciência acadêmica, mas tinha vivência. Não pensava em ter uma banda só de mulheres, a Shes, mas era influenciada pelo movimento Riot Grrrl [de punk feminista underground do início da década de 1990] e foram pensamentos que me moldaram. Mas, no fim, era uma menina no meio dos caras. Até que caiu a ficha: não queria ser homem, queria a liberdade que tinham, andar na rua sem medo. Mas só descobri isso anos depois. Tinha uma preocupação maior em ser ouvida e um medo de só ser vista.
MC Como se desprendeu da ideia de que podia ser ouvida e vista da forma que queria?P Depois que já tinha sido escutada, foi mais fácil encontrar minha feminilidade, porque já não me sentia sendo objetificada.
MC Reconhece que sua postura abriu portas para outras mulheres no rock?P Quando olho para as que vieram antes, penso no tijolo que cada uma colocou ali, desde Celly Campello até Rita Lee, que explodiu todas as portas da feminilidade do rock no Brasil. É um caminho coletivo e espero estar colocando mais um tijolinho.
MC Como enxerga os 20 anos de Admirável Chip Novo? Com mais crítica ou orgulho?P Essa pergunta é quase uma terapia. Mas não fico encanada, sou uma fazedora, sabe? Termino um projeto já me apaixonando pelo próximo.