É padre ou não? Aliado de Bolsonaro em debate, Kelmon tem cargo questionado
Natural de Acajutiba, Bahia, Kelmon Luis da Silva Souza, de 45 anos, conhecido apenas como Padre Kelmon, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), tem sido a atenção dos eleitores desde a última semana e, principalmente após o debate exibido pelo SBT no sábado (24). O candidato, que também esteve no debate desta noite, da Globo, tem seu título de padre contestado pela Igreja Católica (veja a íntegra abaixo).
Originalmente, Kelmon não seria candidato, mas acabou herdando a vaga de Roberto Jefferson, também do PTB, na disputa à presidência do Brasil. Inclusive, em seu registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ainda constam as redes do antigo candidato.
A substituição de Jefferson por Kelmon foi definida, aparentemente, pela amizade entre os dois políticos. Além disso, o religioso era vice do ex-candidato desde que se conheceram em uma missão ortodoxa na Bahia, onde surgiu o convite para ser seu representante de chapa em seu Estado.
O candidato que já foi filiado ao PT (Partido dos Trabalhadores) também se diz admirador de políticos falecidos como Levy Fidélix, do partido PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), e Enéas Carneiro. Ele ainda utiliza seu canal no YouTube para denunciar a "Islamização" e a "Perseguição" aos cristãos no Brasil.
Questionamento sobre ser padreA relação de Kelmon com a religião tem sido alvo de polêmica. Em suas redes sociais, a Igreja Católica negou que Kelmon seja sacerdote da Igreja Ortodoxa no Brasil e nunca foi seminarista ou membro do clero em nenhum dos três graus da ordem —bispo, presbítero e diácono.
"Kelmon se apresenta como sacerdote da Igreja Ortodoxa no Brasil, aparecendo em peças de campanha com vestimentas tradicionais da Igreja. Ainda segundo o documento, o "padre" nunca foi seminarista ou membro do clero da Igreja em nenhum dos três graus da ordem, quer no Brasil ou em outro país.", diz a postagem da Igreja Católica.
Em resposta, Kelmon divulgou uma carta da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru. A entidade diz ser reconhecida pelo governo peruano e chama o candidato de "um dos membros mais ilustres" das missões.
A Igreja ainda informa que Kelmon é reconhecido pela Santa Igreja Ortodoxa como "pároco interino sediado no Vicariato Episcopal do Brasil". O presidenciável é responsável pela Missão Paroquial Ortodoxa Malankar de São Lázaro na Ilha da Maré, na Bahia.
A nota ainda informa que Kelmon se afastou da Igreja no dia 2 de agosto, devido ao conflito de interesses, com uma licença eclesiástica.
Dobradinha com BolsonaroKelmon ficou bastante em evidência no último fim de semana no debate promovido por SBT, CNN Brasil, Veja, Estadão, rádio Nova Brasil FM e Terra. Em diversos momentos da discussão, ele elogiou e defendeu o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nas considerações finais do debate, ele afirmou aos eleitores para não votarem na esquerda. E pediu voto para si mesmo. Apesar disso, durante todo o debate atuou como cabo eleitoral de Jair Bolsonaro. Chegou a reclamar que os outros candidatos estavam criticando o atual presidente da República.
"Eu estou só observando a fala de cada um. Cinco contra um. Mas, agora, são cinco contra dois porque nós somos candidatos de direita."
Extrema-unçãoNo debate da Globo nesta sexta (29), Kelmon foi questionado por Soraya Thronicke (União Brasil), adversária na corrida ao Planalto, se "deu a extrema-unção" a vítimas da covid-19. A senadora perguntou a Kelmon se a postura do governo federal na pandemia não o fazia se envergonhar do apoio ao presidente Bolsonaro.
Auxilio emergencialDurante a pandemia, de acordo com a Folha de S.Paulo, Kelmon recebeu o auxílio emergencial 15 vezes, totalizando R$ 5,1 mil. Ao jornal, sua assessoria explicou que padres da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru não recebem salário ou doações e, como igrejas foram fechadas na pandemia, por isso ele precisou do dinheiro para sobreviver.
O patrimônio declarado do candidato é de R$ 8.547,13, investidos em caderneta de poupança, e sua candidatura recebeu uma doação de R$ 5 mil, de seu vice, Pastor Garmonal. Além da doação, o representante tem acesso a R$ 1,54 milhão de Fundo Especial para a candidatura.