Olavo de Carvalho e Paulo Guedes debocham da inteligência alheia
Assim como chegou sem que ninguém soubesse há quatro meses, salvo os altos escalões do governo federal, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru e credor da família Bolsonaro que lhe reconhece os serviços prestados, foi embora há poucos dias.
Ele sofre de doenças respiratórias porque fuma um cigarro atrás do outro (mais sorte tem Bolsonaro que diz uma mentira atrás da outra, mas não fuma.) Estava em tratamento em um hospital da Virgínia, nos Estados Unidos, onde vive desde 2005.
Mas a medicina americana é particular e cara, não tem SUS, e quem poderia poupá-lo de despesas não mora na Casa Branca, mas no Palácio do Planalto. Além dos pulmões comprometidos, Olavo é vítima da “doença do carrapato”, uma irritação na pele.
Como a vida não está fácil para ninguém, ele pediu socorro aos seus discípulos e foi internado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Mudou de endereço médico pelo menos três vezes.
Em agosto, a Polícia Federal o intimou a depor no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal que apura a existência de uma milícia digital ocupada em desacreditar a democracia. Seus advogados responderam que ele não poderia depor.
Há 10 dias, foi intimado outra vez, e a resposta dos seus advogados foi a mesma. Então, Olavo voltou aos Estados Unidos “de forma repentina”, como disse em um vídeo caseiro. “Foi uma saída à francesa”. Saída à francesa é a que se faz sem avisar ninguém.
“Eu estava no hospital e me ofereceram um voo repentino para dali a 15 minutos. Eu não ia perder essa oportunidade”, desculpou-se. “A coisa foi tão rápida” que ele sequer teve tempo para se despedir de médicos e enfermeiros do hospital. Olavo afirma ter ouvido:
– Ou embarca agora ou não vai ter outro voo.
Quem lhe disse isso? Olavo esconde. Voo de São Paulo para os Estados Unidos há todo dia, e mais de um. Por que a pressa? Foi voo comercial ou particular? Quem bancou sua viagem de volta? Olavo responde com o silêncio. Cabrito bom não berra.
Paulo Guedes, ministro da Economia, conhecido por se encantar com a própria voz, é um mau cabrito. Do nada ou sem necessidade, de tanto falar só arruma confusão. Arrumou mais uma ao participar de um evento sem importância no seu ministério.
Rebateu as críticas por ter sido professor da Universidade do Chile nos anos 1980 quando a ditadura do general Augusto Pinochet sequestrava e matava adversários do regime. Guedes disse que ganhava pouco dinheiro no Brasil e foi ganhar mais por lá:
“Ditadura por ditadura, era Figueiredo [João Figueiredo, ditador no Brasil entre 1979 e 1985] contra Pinochet. Eu não estava nem aí. Hoje eles falam: ‘Ah, trabalhou para o Pinochet’. Eu nunca vi o Pinochet na vida, não sei nem o que ele fez ou ia fazer”.
“Eu era um animal, eu sou um animal de politização tardia, até hoje eu não sei, politicamente, onde é que eu estou. Eu gosto mesmo é de economia, sou apaixonado por economia”. [Guedes, você está a serviço do pior governo que o Brasil já teve]
Pinochet liderou o golpe de setembro de 1973 que bombardeou o Palácio de La Moneda e resultou na morte do presidente Salvador Allende. A ditadura matou ao menos 3 mil pessoas, torturou 30 mil e durou 18 anos, três a menos que a brasileira.
Em 1999, durante uma viagem ao Reino Unido, Pinochet foi preso por ordem de um juiz espanhol, acusado de crimes contra os direitos humanos. Ficou um ano em prisão domiciliar, mas acabou libertado. Morreu em dezembro de 2006 sem ter sido condenado.
O presidente João Figueiredo deu continuidade ao projeto de abertura política do seu antecessor, Ernesto Geisel. Anistiou presos políticos e transferiu o cargo a José Sarney, o vice do presidente eleito Tancredo Neves que morreu sem tomar posse.