Típico de SP, refrigerante tubaína nasceu como marca e é associado a pobres
Na noite de ontem (19), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez uma piada em relação ao uso do remédio cloroquina por pacientes com covid-19. Sobre o fato de liberar um remédio sem comprovação científica contra a doença, Bolsonaro disse que "toma quem quiser. Quem não quiser não toma. Quem for de direita toma cloroquina. Quem for de esquerda toma tubaína".
O refrigerante citado pelo presidente, a tubaína, foi criado no interior do estado de São Paulo e costuma ser visto como item de consumo de pessoas de baixa renda.
Nasceu como marca, no final do século 19, de uma bebida feita a partir do fruto de guaraná e com extrato de tutti-frutti. Com o tempo, a tubaína passou a ser usado como sinônimo desse tipo de produto, e não como nome de marca. O sabor do refrigerante é semelhante em praticamente todas as receitas.
Ainda existe discussão judicial sobre a utilização do nome tubaína. Em 2018, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) reforçou que a expressão "tubaína" é de "uso comum, servindo para designar refrigerante de marca sem grandes expressões no mercado, voltada para públicos menos exigentes e de menor poder aquisitivo".
Refrigerante nasceu em Piracicaba (SP)A tubaína foi criada no interior de São Paulo, mas há diferentes versões para a sua origem.
Uma delas aponta que o inventor do produto foi José Miguel de Andrade, proprietário da fábrica de licores e vinagres Andrade, fundada em 1890, em Piracicaba. O nome tubaína teria sido dado por seu filho, Thales de Andrade, professor escritor e um dos pioneiros da literatura infantil brasileira, falecido em 1997.
Uma segunda versão afirma que o refrigerante foi criado com o nome "Etubaína" na fábrica de refrigerantes Orlando, na década de 1930, também em Piracicaba. O refrigerante era produzido com banana, pêssego, pera e morango.
Segundo a própria empresa, a "receita utilizada na Etubaína Orlando foi descoberta pela família Andrade, que era concorrente, porém amiga, da família Orlando". A Etubaína Orlando ainda é produzida, à base de abacaxi, morango e maçã.
A primeira empresa a registrar a marca "tubaína" foi a fábrica de refrigerantes Ferráspari, de Jundiaí.
Segundo a empresa, o produto nasceu como uma bala, no sabor "Turbaína", que deu origem ao refrigerante em meados dos anos 1930.
Atualmente, a tubaína mais famosa do mercado é a Itubaína Schin, que existe desde 1954, pertencente à antiga Schincariol.
Em 2015, a então Schincariol ganhou o direito de continuar usando o nome, depois de uma ação movida pela Ferráspari. Hoje, a Schin comercializa produtos nos sabores "original", "maçã" e "guaraná".
O interior de São Paulo possui várias marcas do produto. Funada (Presidente Prudente), Cotuba (São José do Rio Preto), Conquista (Palmital), Xereta (Tietê), Jaboti (Jaboticabal), Cristalina (Assis) e São José (Garça) são algumas das principais.
A marca Baré, que hoje pertence à Ambev, fabricante das cervejas Brahma e Skol, surgiu nos anos 1960, no Amazonas, e pode ser considerada uma "tubaína".
O guaraná Jesus, do Maranhão, que faz parte do portfólio da Coca-Cola desde 2001, também é uma "tubaína". Quando foi levado a mercados de outros estados, em 2016, a companhia tentou dar um ar "premium" à bebida.
Bar dedicado à tubaínaApesar de a tubaína ser relacionada a um público de baixa renda, há um bar no centro de São Paulo, em região nobre, dedicado a ela. O Tubaína Bar e Cozinha afirma ter mais de 30 tubaínas no cardápio e servir mais de 20 drinques com a bebida.
Nesta quarta-feira, o bar criticou as declarações do presidente e defendeu o isolamento social, indicado por especialistas e pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como política mais eficaz para combater a disseminação do coronavírus.
Associação de refrigerantes critica BolsonaroA Afebras (Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil) divulgou nota para repudiar o que chamou de "piada de mau gosto" do presidente Bolsonaro. A entidade lembrou que a piada foi feita no mesmo dia em que o Brasil registrou 1.179 mortes causadas pela covid-19.
"A entidade defende que o governo, em vez de politizar o uso do medicamento, deve acabar com as regalias fiscais milionárias concedidas a multinacionais de bebidas na Zona Franca de Manaus, para amenizar o momento de crise econômica agravada pela pandemia no país."
No texto, a Afrebras lembra ainda que representa "mais de 100 indústrias de bebidas regionais no Brasil, entre as quais os produtores de tubaína", e afirma que diversas companhias associadas têm trabalhado para ajudar a combater o coronavírus.