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Os acertos da Nova Zelândia no combate à covid-19

Os acertos da Nova Zelândia no combate à covid19
Confinamento rígido, testagem em massa e comunicação eficiente com a população. País da Oceania colhe frutos de política consistente e não registra mais nenh

Confinamento rígido, testagem em massa e comunicação eficiente com a população. País da Oceania colhe frutos de política consistente e não registra mais nenhum caso ativo de covid-19 em seu território.A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse nesta segunda-feira (08/06) que chegou "dançar" de alegria quando recebeu a notícia de que o último cidadão da Nova Zelândia com coronavírus havia se recuperado.

O país tem bons motivos para comemorar. A Nova Zelândia exibiu ao longo da pandemia uma das respostas mais eficazes do mundo ao desafio imposto pela doença.

De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, a Nova Zelândia registrou 1.504 casos de Covid-19 e apenas 22 mortes.

Para efeito de comparação, a Irlanda, outra nação insular com população semelhante, registou mais de 25.000 casos e 1.679 mortes.

Veja como a Nova Zelândia conseguiu estabelecer uma das estratégias mais eficazes para vencer o covid-19:

O confinamento foi duro e imposto rapidamente

"Temos que ser duros e devemos fazer isso cedo", foi a mensagem da primeira-ministra Ardern no início da crise.

Em 15 de março, quando a Nova Zelândia tinha apenas 100 casos confirmados e ainda nenhuma morte registrada, o governo ordenou o fechamento das fronteiras para viajantes estrangeiros e obrigou os cidadãos que voltaram ao país que ficassem em quarentena em casa por 14 dias. Também foram proibidos eventos com mais de cem pessoas.

Dez dias depois, o governo introduziu medidas amplas de confinamento (lockdown) para todo o país, rígidas pelos padrões internacionais. Somente mercearias, farmácias, hospitais e postos de gasolina puderam permanecer abertos. Mesmo as viagens com veículos particulares foram restritas e a interação social foi limitada ao núcleo familiar.

Essas restrições duraram mais de um mês antes de serem gradualmente suavizadas. Agora, todas as medidas sociais e econômicas de isolamento foram levantadas e restam apenas as restrições nas fronteiras.

As regras de confinamento foram vitais, pois "suprimiram a disseminação do vírus mais cedo e compraram um tempo precioso que outros países desperdiçaram", disse à DW Oksana Pyzik, professora da Escola de Farmácia da University College London (UCL).

As novas regras foram comunicadas de forma eficaz

Pouco antes do confinamento rígido, o governo enviou mensagens de emergência aos celulares de todos os residentes. "Esta é uma mensagem para toda a Nova Zelândia. Estamos dependendo de você", dizia o texto. "Onde você fica esta noite é onde deve ficar a partir de agora... é provável que [as medidas mais rígidas] permaneçam em vigor por várias semanas".

À medida que a crise avançava, a premiê Ardern deixou clara a abordagem que queria aplicar na luta contra a covid-19. "Temos a oportunidade de fazer algo que nenhum outro país conseguiu: a eliminação do vírus", disse ela ao país em uma entrevista coletiva em 16 de abril.

"O governo ´foi muito bom em gerenciar as expectativas das pessoas", disse à rede CNBC um morador da capital Wellington. "Disseram-nos que levaria duas semanas para que surgissem os primeiros sinais de que o confinamento estava baixando os números. Isso tornou fácil o entendimento e a aceitação do objetivo do confinamento".

A curva da doença achatou 10 dias após o início do confinamento. mesmo assim, não houve imediatamente um relaxamento das restrições.

Pyzik, da UCL, também acredita que o governo acertou no tom das mensagens. "Mensagens consistentes sobre priorização da saúde e comunicação frequente e entrevistas coletivas diárias diretamente à população - incluindo crianças - ajudaram a garantir a adesão do público".

O país aumentou sua capacidade de testagem

Na semana passada, a premiê Ardern anunciou que o país seria capaz de processar até 8.000 testes por dia, uma das maiores taxas de testes per capita do mundo. No total, o país testou pouco menos de 295.000 pessoas, novamente mostrando uma taxa per capita de testes comparativamente alta. Foram 60.98 testes por grupo de 1.000 pessoas. Para efeito de comparação, o Brasil realizou menos de 3 testes por grupo de 1.000 pessoas.

Shaun Hendy, chefe do Te Punaha Matatini, um órgão científico que assessora o governo na resposta ao covid-19, disse ao site de notícias Axios que o confinamento rígido na Nova Zelândia permitiu ao governo rastrear mais facilmente as pessoas que precisavam se isolar conforme os casos iam sendo identificados .

Pyzik concorda que isso foi eficaz. "Seguir o conselho da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre testes em massa e uma política de rastreamento robusta de contatos foi essencial para limitar o número de mortes".

Geografia ajudou

O fato de a Nova Zelândia ser uma nação insular relativamente isolada ajudou muito na resposta. Isso permitiu que o país tivesse mais controle sobre quem podia entrar do que outros países com grandes fronteiras terrestres.

O país também tem uma densidade populacional relativamente baixa, o que significa que o vírus não pode viajar tão facilmente pela população, pois menos pessoas mantêm contato uma com a outra.

Pyzik aponta que isso ajudou a Nova Zelândia. "É uma nação insular remota e pouco povoada. Mesmo com testagem em massa e fechamento de fronteiras, seria difícil obter o mesmo grau de sucesso (em outros países)", diz ela.

No entanto, isso não significa que a Nova Zelândia não possa ser usada como referência por outros países. "Apesar das vantagens da pequena população e da localização remota da Nova Zelândia, as lições que outros países podem e devem aprender envolvem a importância de agir rapidamente", acrescenta Pyzik.

Mostrar o exemplo

Quando o próprio ministro da Saúde do país, David Clark, violou as regras de confinamento para ir a uma praia remota com sua família, a premiê Arden repreendeu o titular publicamente.

Ele chegou a oferecer sua demissão, mas a premiê disse que o país não poderia se dar ao luxo de uma mudança abrupta na pasta. Clark foi mantido, mas teve seu status rebaixado e perdeu um de suas funções paralelas no Ministério das Finanças.

Ardern apontou que, em circunstâncias normais, Clark teria perdido o cargo. "Não podemos nos permitir a um grande transtorno no nosso sistema de saúde", explicou. "Espero algo melhor, e a Nova Zelândia também", disse a premiê.

Já Clark teve que pedir desculpas publicamente. "Eu fui um idiota e eu entendo que as pessoas estejam bravas comigo", disse. "Como ministro da Saúde, é minha responsabilidade não só cumprir as regras, mas dar exemplo a outros neozelandeses", declarou no início de abril.

A atitude da premiê frente à pandemia levou Jacinda Ardern a se tornar a primeira-ministra mais popular da Nova Zelândia em um século.

Em maio, uma pesquisa mostrou os resultados, 59,5% dos neozelandeses veem Ardern como a melhor pessoa para ocupar o cargo de premiê, um crescimento de 20,8 pontos em relação à última pesquisa. É a cifra mais alta de qualquer líder na história dos levantamentos do instrituto Reid Research, responsável pela pesquisa.

Os números também mostraram que a popularidade do Partido Trabalhista de Ardern aumentou 14 pontos percentuais, chegando a 56,5% - a maior já registrada por um partido em toda a história da Nova Zelândia.

Governo manteve política de modo consistente

O governo da Nova Zelândia seguiu algumas das melhores diretrizes para lidar com o coronavírus - e se manteve consistentemente nessa tota.

"A pedra angular da resposta pandêmica que cada país deve procurar envolve testar, isolar e cuidar de todos os casos, além de rastrear e colocar em quarentena todos os contatos de um infectado", diz Pyzik.

"Essa é a melhor defesa o covid-19 e foi assim que a Nova Zelândia conseguiu superar a doença".

Agir rapidamente e de modo eficaz tem suas recompensas. Isso significa que o país pode começar sua recuperação econômica mais cedo.

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