Marina Colasanti morre, aos 87 anos, no Rio de Janeiro
Marina Colasanti morreu em casa, no Rio, aos 87 anos
A escritora, jornalista e tradutora Marina Colasanti morreu nesta terça-feira (28) em casa, no Rio de Janeiro, aos 87 anos. Marina tinha Parkinson e foi vencida por uma pneumonia.
Quando Marina Colasanti recebeu a notícia de que era dela o Prêmio Machado de Assis, concedido em 2023 pela Academia Brasileira de Letras, a autora se disse surpresa, ao mesmo tempo merecedora, e lembrou que nunca tinha escrito um romance. Não quis, nem precisou para se tornar um dos grandes nomes da literatura brasileira.
Do primeiro livro à última obra, produziu mais de 70 títulos entre contos, crônicas, poesias e ensaios. Na literatura infanto-juvenil virou referência.
"Eu nunca tive a trava da página em branco. Eu não tenho. Porque como trabalho em áreas diferentes, antes de terminar um livro, sei qual vai ser o livro que eu vou fazer depois”, disse Marina Colasanti em julho de 2018.
Ganhou nove vezes o Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do país. O último, em 2024, como "Personalidade Literária".
"Marina transitou por diversos gêneros literários, emocionando gerações e contribuindo de forma inestimável para a nossa cultura”, afirma Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro.
Marina Colasanti também lutou ativamente pelo espaço das mulheres na sociedade.
"As mulheres estão saindo dessa coisa de sofrimento individual e indo para soluções coletivas. Elas já estão descobrindo que sozinhas não vão resolver coisa nenhuma”, disse Marina Colasanti em entrevista de outubro de 1988.
"Marina foi um presente que o Brasil ganhou e as mulheres brasileiras, porque ela escreveu muito cedo, muito jovem, sobre a questão das mulheres e, de lá para cá, ela foi um exemplo para todos”, afirma Rosiska Darcy, escritora e imortal da ABL.
Marina Colasanti nasceu na Eritreia, então colônia italiana na África. Passou a infância entre a Líbia e a Itália em meio à Segunda Guerra Mundial. E, aos 10 anos, veio com a família para o Brasil, morar na casa de uma tia-avó: a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, para quem o marido, o milionário Henrique Lage, ergueu não exatamente uma casa, mas um palacete que hoje fica em uma das áreas públicas mais conhecidas e visitadas do Rio: o Parque Lage. A história do casal neste lugar virou livro.
“Nós não estamos no Parque Lage, na Escola de Artes Visuais. Nós estamos na minha casa, Vila Gabriela, a chácara, a casa da titia. Essa casa era uma casa linda, cheia de flores, toda encerada, cheia de vida. Era uma casa cheia de vida”, contou Marina Colasanti em setembro de 2011.
Marina Colasanti morre, aos 87 anos, no Rio de Janeiro — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Marina Colasanti se formou em Artes Plásticas, fez exposições e ilustrou seus próprios livros. Como escritora profissional, começou no “Jornal do Brasil”. Também foi apresentadora de TV, publicitária e tradutora. Em uma das crônicas mais famosas escreveu:
"A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.
Ela deixa o marido, o escritor e crítico Affonso Romano de Sant’Anna, um neto e a filha Alessandra, que em 2024 produziu um documentário familiar sobre as memórias da mãe e da mulher que fez história lapidando palavras:
“Haverá adiante um ponto de mudez e o último esforço das válvulas uma e outra arremessando o sol na escuridão e entornando as estrelas da Via Láctea”.
O corpo de Marina Colasanti vai ser velado nesta quarta-feira (29) no Parque Lage, na Zona Sul do Rio de Janeiro.