Biden a um passo da Casa Branca após ultrapassar Trump em tensa disputa eleitoral
Washington, 7 Nov 2020 (AFP) - O democrata Joe Biden está a um passo de chegar à Casa Branca, após assumir a liderança da contagem de votos no estado-chave da Pensilvânia, contra o presidente Donald Trump, que não parecia disposto a admitir uma eventual derrota na disputada corrida.
A Pensilvânia permitiria que Biden, 77 anos, cruzasse o limiar dos 270 votos exigidos no Colégio Eleitoral para ganhar a presidência dos Estados Unidos.
Com 96% dos votos apurados na Pensilvânia, o estado natal de Biden onde Trump venceu há quatro anos, o candidato democrata lidera o presidente republicano por 14.500 votos, de acordo com os números eleitorais estaduais.
Biden, que acumula pelo menos 253 votos eleitorais, está à frente na Pensilvânia (que lhe renderia 20 votos eleitorais), Arizona (11), Geórgia (16) e Nevada (6).
Trump, que tem um total de 214, lidera a corrida na Carolina do Norte (15) e no Alasca (3), os outros dois estados nos quais a contagem que mantém o país em suspenso desde o dia das eleições, 3 de novembro, ainda avança.
O ex-vice-presidente de Barack Obama anunciou que falará nesta sexta-feira em seu reduto em Wilmington, Delaware, onde um grande palco ao ar livre foi instalado no dia da eleição.
Embora nenhum grande veículo de mídia dos EUA tenha declarado um vencedor, a presidente da Câmara dos Representantes e a líder dos democratas no Congresso, Nancy Pelosi, se referiu a Biden como "presidente eleito".
"Esta manhã está claro que a chapa Biden-Harris vai ganhar a Casa Branca", disse Pelosi sobre Biden e sua companheira de chapa, Kamala Harris, que, se eleita, entrará para a história como a primeira mulher e primeiro negro a chegar à vice-presidência americana.
- "Total transparência" -Trump pareceu mais moderado depois de um discurso extraordinário na véspera em que insistiu nas acusações, sem provas, de fraude, que lançou na madrugada de quarta-feira, quando se declarou vencedor horas após o fechamento das urnas.
"Se contarem os votos legais, eu ganho facilmente. Se contarem os votos ilegais, eles podem tentar nos roubar a eleição", disse ele na noite de quinta-feira na Casa Branca.
A vantagem do presidente de 74 anos foi diminuindo em vários estados quando começaram a ser contados os votos pelo correio, que bateram recorde este ano devido à pandemia de covid-19, o que tem favorecido principalmente Biden.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira pela sua campanha de reeleição, Trump disse que suas reivindicações visam garantir a "integridade" da eleição. "Acreditamos que o povo americano merece total transparência em todas as contagens de votos", disse ele.
No entanto, ele continuou a ameaçar ir ao tribunal para contestar os resultados. "Nunca vou parar de lutar por vocês e por nossa nação", afirmou ele.
- "Não terminou" -O comunicado de Trump saiu horas depois de sua campanha anunciar que a eleição "não acabou".
"As projeções errôneas de Joe Biden como vencedor se baseiam em resultados de quatro estados que estão longe de serem definitivos", disse Matt Morgan, da equipe de Trump, em nota.
Morgan alegou que havia cédulas "irregulares" na Geórgia, onde uma recontagem era esperada, e em Nevada, alegando que os observadores republicanos da contagem de votos tiveram o acesso negado na Pensilvânia.
Além disso, garantiu que Trump caminhava para a vitória no Arizona, criticando, mais uma vez, a rede Fox News e a agência AP por conceder o estado a Biden.
Outros grandes meios de comunicação dos EUA ainda não se manifestaram.
A campanha de Biden respondeu sarcasticamente.
"O povo americano vai decidir essa eleição", disse. "E o governo dos EUA é perfeitamente capaz de escoltar intrusos para fora da Casa Branca."
- Recursos judiciais - O Partido Republicano da Pensilvânia pediu nesta sexta-feira que a contagem das cédulas que chegaram a este importante estado pelo correio depois de 3 de novembro não fossem contadas.
A mais alta corte do país, na qual os juízes conservadores agora têm maioria sólida, pode invalidar essas cédulas.
No entanto, isso pode não fazer diferença para o resultado final, já que o número de votos envolvidos é muito menor do que a vantagem de Biden sobre Trump.
A missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) para as eleições nos Estados Unidos disse nesta sexta-feira que não "observou diretamente nenhuma irregularidade grave" nas eleições e pediu aos candidatos que evitem "especulações danosas".
Os advogados de Trump iniciaram várias ações legais para contestar a apuração de votos em vários estados.
Os democratas acreditam que essas alegações são infundadas, mas esses recursos podem atrasar a aprovação dos resultados por dias ou semanas.
Os republicanos não se manifestaram em massa para apoiar Trump em suas acusações de "roubo", embora algumas figuras influentes as apoiassem.
"Não ouvimos falar de nenhuma evidência", disse Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey e aliado de Trump, à ABC, alertando sobre o risco de alimentar tensões em um país altamente dividido.
"O presidente tem o direito de pedir uma recontagem" de votos, mas "ele está errado ao dizer que a eleição foi fraudada, corrompida e roubada", tuitou o senador republicano Mitt Romney, um crítico frequente do presidente.
"Acho que tudo deveria estar sobre a mesa", disse a senadora Lindsay Graham quando questionada pela conservadora Fox News se a assembleia de maioria republicana da Pensilvânia deveria verificar os resultados.
"O presidente está com raiva, eu estou com raiva e os eleitores deveriam estar com raiva", disse o senador Ted Cruz.
Como faz desde terça-feira, Biden pediu calma e paciência. "Ninguém vai tirar nossa democracia. Nem hoje, nem nunca", ele tuitou na quinta-feira.
Com a atitude de Trump, o temor por distúrbios sociais cresceu em um país cada vez mais polarizado.
Uma indicação de sua vitória iminente é o reforço do dispositivo de segurança que o Serviço Secreto implementará em torno de Biden, informou o Washington Post.
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