Dono do Banco Safra, Joseph Safra era o homem mais rico do Brasil


O empresário Joseph Safra, do Banco Safra, é visto durante jantar anual de Confraternização dos Dirigentes de Bancos, no Grand Hyatt Hotel, em São Paulo, em novembro de 2010 — Foto: Renata Jubran/Estadão Conteúdo
Morto nesta quinta-feira (10), aos 82 anos, Joseph Safra era o homem mais rico do Brasil, tendo desbancado este ano Jorge Paulo Lemann do ranking de bilionários brasileiros da revista Forbes Brasil, com uma fortuna estimada em R$ 119,08 bilhões. Pelo Bloomberg Billionaires Index, ele ocupava a 101ª posição em todo o mundo.
Libanês naturalizado brasileiro, fez fortuna no Banco Safra. Nascido em 1938, Joseph veio para o Brasil na década de 1960, para dar continuidade aos negócios do pai, Jacob. Ele e o irmão, Moise, foram os grandes responsáveis pela ascensão do grupo desde então.
A dupla vem de uma tradicional família de banqueiros. Desde meados do século 19, familiares de Jacob Safra fundaram em Aleppo, na Síria, o Safra Frères & Cie, instituição financeira para empréstimos e operações de câmbio e ouro. Foi em 1920 que Jacob abriu o Jacob Safra Maison de Banque, em Beirute, no Líbano.
A mudança da família para o Brasil começou após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, quando iniciou com os filhos a criação do conglomerado financeiro. Jacob foi o primeiro a chegar a São Paulo, trazendo a expertise para o mercado latino.

Joseph Safra morre em SP aos 82 anos
O filho mais velho de Jacob, Edmond, chegou a operar no Brasil, mas seguiu caminho com Nova York como base. Fundou o Republic National Bank, que foi vendido em 1999 para o HSBC por US$ 10,3 bilhões. Pouco tempo depois, Edmond foi morto em um incêndio provocado em sua casa, em Mônaco. Sua esposa, Lily Safra — que por muitos anos foi a brasileira mais rica — estava no apartamento, mas sobreviveu. O enfermeiro de Edmond Safra acabou condenado pelo incêndio.
Em 2006, Joseph assumiu os negócios por completo ao comprar a parcela de 50% dos negócios de seu irmão. Moise morreu em 2014. Estimativa da Bloomberg dá conta de que, só em dividendos do banco, Joseph tenha embolsado R$ 6,4 bilhões no período solo.
O momento mais difícil de sua gestão do Safra foi após a crise do subprime, em 2008. O jornal inglês Financial Times revelou que o banco brasileiro havia feito investimentos com Bernard Madoff, banqueiro americano acusado de comandar um esquema ilegal de pirâmide de US$ 50 bilhões. O Safra, sozinho, tinha US$ 300 milhões dos seus clientes em um fundo gerido por Madoff.
Conservador que era, investiu boa parte da fortuna em imóveis, como o número 660 da Madison Avenue, em Nova York, e o famoso Gherkin, prédio com formato de pepino em Londres. Mas não deixou de avançar onde sabe: em 2012, anunciou a compra do banco suíço Sarasin, por US$ 1,1 bilhão. Também fazia parte de seu portfólio o Safra National Bank, de Nova York.
Sob a batuta de Joseph, o Banco Safra se consagrou como um dos principais bancos na modalidade Private Banking, que administra grandes fortunas. Apenas nos últimos anos, a carteira de clientes foi ampliada e o grupo entrou mais forte no varejo. Exemplos foram o lançamento das maquininhas de pagamento SafraPay e da carteira digital SafraWallet. A mudança de rumos, inclusive, foi um dos motivos para um racha entre dois filhos de Joseph, Alberto e David, que conduziam a operação no Brasil.
Entre os íntimos, o homem mais rico do Brasil era conhecido apenas por "Seu José". Casado com Vicky Sarfaty, ele teve 4 filhos e 14 netos. Fazia questão de dizer que era orgulhoso de sua cidadania brasileira e de ser torcedor do Corinthians.
Apesar de discreto, morava em uma mansão de 11 mil metros quadrados, no bairro do Morumbi, capital paulista. A família Safra também é reconhecida por sua atuação filantrópica e de suporte à comunidade judaica. Recentemente, foram doados R$ 30 milhões para o combate à Covid-19.
Segundo nota de pesar publicada hoje pelo banco, "sempre foi um marido e pai muito carinhoso e sempre se preocupava com todos", além de "homem afável e perspicaz, dedicou sua vida à família, aos amigos, aos negócios e causas sociais".
O sepultamento de Safra será nesta quinta-feira (10), às 13h, em evento reservado a familiares e amigos.