Opinião: EUA podem ter deixado o Afeganistão, mas Afeganistão não deixou os EUA
A crise no Afeganistão vem tomando as atenções da Casa Branca com uma intensidade no qual o governo de Joe Biden ainda não tinha visto. Após o atentado do ISIS-K, o Presidente Biden ordenou um ataque de drone que matou duas lideranças do grupo.
A crise no Afeganistão vem tomando as atenções da Casa Branca com uma intensidade no qual o governo de Joe Biden ainda não tinha visto. Após o atentado do ISIS-K, o Presidente Biden ordenou um ataque de drone que matou duas lideranças do grupo.
Nesse fim de semana, por conta de uma eficiente atuação dos serviços de inteligência, um novo ataque de drone impediu mais um atentado com carro bomba nas proximidades do aeroporto de Cabul.
Biden não esperava por um ano tão complicado. A saída das tropas do Afeganistão era pra ser, na sua percepção, uma jogada de sucesso, aplaudida internamente e entre aliados. O erro de cálculo foi justamente relacionado ao avanço que o Talibã ja estava tendo, se aproximando cada vez mais à capital.
A relação com os aliados piorou desde a tomada de Cabul pelo Talibã. As críticas da França, Alemanha e Reino Unido foram firmes, em relação a forma como a retirada das tropas americanas ocorreram. Ao mesmo tempo, países aliados sem a capacidade de se defender sem um apoio militar americano, se mostraram relutantes em criticar, mas receosos sobre o futuro da aliança.
Biden precisará desenhar uma estratégia em relação ao Afeganistão com três vertentes chave:
Definir o que será feito em relação com o Taibã. Reconhecimento do novo governo? Mobilização na comunidade internacional para não reconhecer? Sanções direcionadas à China e Rússia pra conter ajudas financeiras e de produtos?
Definir o que será feito em relação ao ISIS-K. Manter bombardeios até que os últimos americanos e aliados seja retirados do país? Manter uma linha de ataque para impedir que eles saiam das fronteiras do Afeganistão e represente um risco para outros aliados?
Definir o que será feito em relação à China e Rússia. As relações desses dois países com o Afeganistão ainda é incerta. Ao mesmo tempo que podem se beneficiar, criando uma frente de antagonismo à aliança americana com a Índia, esses dois países também podem ser sugados para uma situação sem controle, baseado em uma falsa confiança no Talibã. Biden iniciará sanções para quem apoiar o regime talibã? Ou optará por deixar China e Rússia serem sugados para uma situação difícil de sair?
Escolhas
Biden não pode simplesmente abandonar a questão do Afeganistão por várias razões. Além da China, Rússia e ISIS-K, um importante aliado americano espera uma postura firme dos EUA, para que a instabilidade afegã não transborde suas fronteiras e invada a fronteira de um aliado. Esse país é a Índia.
A Índia entende que o Talibã participou de uma forma ou outra de atentados terroristas em seu território nos últimos 20 anos. Mesmo acusando o governo paquistanês, a Índia enxerga o Talibã como instrumento do governo paquistanês para isso. Naturalmente, o Paquistão diz que as acusações indianas são infundadas e visam apenas queimar a imagem do país no exterior.
Os EUA entendem que a relação com a Índia é importante demais pra ser esquecida por conta do Afeganistão. E a Índia exigirá uma postura americana que vise corrigir o que vem acontecendo nas últimas semanas. Para os americanos, a Índia é o aliado primordial na contenção da China no Oceano Índico e em operações de ciber-inteligência. Já para a Índia, o crescimento chinês assusta, assim como suas ambições territoriais, por isso, a ajuda e suporte americano são imprescindíveis.
Biden não tem escolhas fáceis pelo caminho. Qualquer uma, levará a um incômodo doméstico ou externo. O cobertor é curto e os EUA sabem. Mas dentro do contexto de contenção chinesa, o país pode ter deixado o Afeganistão, mas o Afeganistão não deixou os Estados Unidos.