Mundo isola Moscou e China quer negociar paz
Diplomatas boicotam discursos do ministro das Relações Exteriores da Rússia em reuniões da ONU. Ministro chinês oferece ajuda para paz ao embaixador da Ucrânia
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, enfrentou dois grandes boicotes, ontem, durante sua participação em dois fóruns internacionais, o que ilustra o isolamento diplomático de Moscou, após a invasão da Ucrânia. O primeiro caso ocorreu quando várias delegações, entre elas as de Ucrânia e países ocidentais, deixaram a sala no momento em que o discurso de Lavrov na Conferência sobre Desarmamento era transmitido por vídeo. A plenária ficou quase vazia. A Conferência sobre Desarmamento foi inaugurada, inclusive, com um minuto de silêncio pelas “vítimas” ucranianas.
Menos de uma hora depois, esse movimento se repetiu, quando o chanceler russo falou por vídeo perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU. Enquanto o auditório se esvaziava durante o pronunciamento de Lavrov na Conferência sobre Desarmamento, os diplomatas se reuniam do lado de fora da Câmara, em frente a uma grande bandeira ucraniana, aplaudindo ruidosamente.
Os aplausos podiam ser ouvidos na sala, onde o discurso de Lavrov continuava a ser transmitido, na presença de apenas alguns embaixadores. Entre eles estavam os representantes de Venezuela, Síria, Iêmen e Tunísia. “É importante mostrar um gesto de solidariedade para com nossos amigos ucranianos”, defendeu Yann Hwang, embaixador francês na Conferência sobre Desarmamento. “Qualquer invasão constitui uma violação dos direitos humanos (...) violações massivas e perda de vidas civis”, afirmou o diplomata francês Jerome Bonnafont. Em Nova York, a reunião extraordinária da Assembleia-Geral da ONU prosseguiu ontem com discursos contra a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Criado em 1979 para frear a corrida armamentista, esse é o único órgão multilateral da comunidade internacional para as negociações nesse setor. Lavrov planejava viajar para Genebra para participar presencialmente das duas conferências, mas cancelou sua ida no último minuto. Segundo sua assessoria, “sanções antirussas” impedem-no de sobrevoar o território da União Europeia, o que o obrigou a enviar suas intervenções por vídeo.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, sugeriu ontem que a Rússia seja excluída do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em retaliação pela invasão da Ucrânia. “É razoável nos perguntarmos se um Estado-membro da ONU que tenta se apoderar de outro Estado-membro da ONU, cometendo terríveis violações dos direitos humanos e causando um grande sofrimento humanitário, deveria estar autorizado a permanecer neste Conselho”, questionou Blinken em mensagem de vídeo nesse organismo.
O secretário americano pediu ao Conselho que “envie uma mensagem unânime ao presidente Putin para que detenha, de maneira incondicional, este ataque não provocado e promova uma retirada imediata das tropas russas da Ucrânia”. “Se o presidente Putin atingir seu objetivo declarado de derrubar o governo democraticamente eleito da Ucrânia, a crise humanitária e dos direitos humanos vai apenas piorar”, acrescentou Blinken.
Pela paz
Com a escalada do conflito na Ucrânia a partir da ofensiva dos russos e o fornecimento de armas pela Otan e países da Europa aos ucraniandos, a China mudou sua postura diplomática de observar o conflito sem se manifestar e se colocou disposta a negociar um cessar-fogo. O ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, telefonou para seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, ontem, e pediu uma resolução do conflito por meio de negociação – anunciou a imprensa estatal, mostrando o esforço de Pequim de manter um equilíbrio diplomático. O ministro Wang Yi também disse a Kuleba que Pequim “lamenta profundamente este conflito que eclodiu entre Ucrânia e Rússia e presta extrema atenção à dor sofrida pelos civis”, informou a emissora estatal CCTV.
O chanceler chinês pediu aos dois países que “encontrem uma forma de resolver o problema mediante negociações” acrescentou a mesma fonte. A China começou a retirar seus cidadãos retidos pela invasão russa da Ucrânia, informou a imprensa chinesa, em meio a tensões nas normalmente boas relações entre Pequim e Moscou. Quase 600 estudantes chineses foram retirados na segunda-feira de Kiev e Odessa (Sul) para a Moldávia, revelou o jornal Global Times, que citou a embaixada chinesa na capital ucraniana. Os chineses viajaram a bordo de ônibus escoltados por funcionários da embaixada e policiais ucranianos, afirmou a publicação, que classificou o percurso de seis horas como “seguro e tranquilo”.
“Putin estava errado', diz Biden
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aproveitou seu primeiro Discurso à Nação para manifestar apoio à Ucrânia e atacar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a quem chamou de ditador. Aplaudido de pé ao entrar no Congresso com cores azul e amarela nas roupas e gravatas, Biden conclamou democratas e republicanos a estarem unidos. “A liberdade sempre triunfará. Há seis dias, Putin tentou abalar os fundamentos do mundo livre, que não se dobrou ao seu desejo. Ele encontrou um muro que jamais imaginou que fosse encontrar”, disse Biden, que por várias vezes foi aplaudido de pé. O presidente norte-americano anunciou o fechamento do espaço aéreo dos Estados Unidos para aviões russos e ressaltou o envio de US$ 1 bilhão para a Ucrânia e apoio.
“Nossas forças não serão enviadas para Europa, mas apoiaremos para que a Rússia não possa entrar em outro país, com o empenho de forças aéreas e marítimas para proteger Estônia, Letônia e Hungria, nossos aliados e para que sejam espaço territorial da Otan”, disse Biden. “Putin está provocando caos, mas está pagando um custo alto, mostrando repetidas vezes que o mundo não tolera um ditador russo invadindo um país estrangeiro”, acrescentou Biden.
O presidente americano afirmou ainda que as medidas contra a economia russa provocaram a queda de 30% no rublo e de 40% nas ações e foram bloqueados US$ 30 billhões foram bloqueados. “No futuro, quando as pessoas descrever a história deste momento vão dizer que Putin tornou a Rússia mais fraca e o mundo mais forte”, disse Joe Biden sendo muito aplaudido. “Isso não devia ter acontecido, mas como aconteceu para mostrar que a democracia vence as autocracias e temos que nos inspirar na coragem do povo ucraniano”, acrescentou Biden. “Putin estava errado e nos preparamos de forma organizada em uma coalização da América, Europa e África”, frisou o presidente dos Estados Unidos.