Com discurso duro contra Putin e anúncio de mais sanções, Biden tem seu 1º Estado da União
Biden em discurso no Congresso — Foto: Jabin Botsford/ Pool via AP
O presidente americano, Joe Biden, endureceu o seu discurso contra Vladimir Putin e anunciou mais sanções à Rússia pela guerra na Ucrânia, nesta terça-feira (1º), em seu primeiro Estado da União, tradicional pronunciamento que acontece uma vez por ano no Congresso dos Estados Unidos.
"Há 6 dias, Vladimir Putin, da Rússia, achou que iria abalar as próprias fundações do mundo livre, pensando que poderia fazê-lo se curvar aos seus caminhos ameaçadores, mas ele teve um erro de cálculo, ele se deparou com o povo ucraniano", disse Biden.
O americano citou o discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao Parlamento Europeu e agradeceu a presença da embaixadora ucraniana em Washington, Oksana Markarova, que foi aplaudida de pé por membros do Congresso e convidados.
"Estamos com o povo ucraniano", disse Biden.
Embaixadora da Ucrânia nos EUA é aplaudida de pé durante discurso de Joe Biden
"Ao longo de nossa história, aprendemos esta lição: quando os ditadores não pagam o preço por sua agressão, eles causam mais caos", disse Biden. "Eles continuam se movendo. E os custos e ameaças para os EUA e o mundo continuam aumentando."
Biden defendeu a importância da diplomacia americana e da aliança militar Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), formada pelos EUA e mais 29 países. Ele disse ainda que os EUA vão proteger "cada polegada de território da Otan".
- O que é a Otan, qual significado da sigla, países membros e objetivos
"É por isso que a Aliança da Otan foi criada, para garantir a paz e a estabilidade na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Os EUA são membros junto com outras 29 nações. Isso importa. A diplomacia americana é importante."
Biden: 'Os EUA vão proteger cada polegada de território da Otan'
"A guerra de Putin foi premeditada e não provocada [...] Ele achou que o Ocidente e a Otan iriam se dividir. Ele pensou que poderia nos dividir. Ele estava errado", disse o presidente dos EUA.
"Para todos os americanos, serei honesto com vocês, como sempre prometi que seria", disse Biden. "Um ditador russo, invadindo um país estrangeiro, tem custos em todo o mundo."
Biden anunciou o fechamento do espaço aéreo americano para voos russos e uma série de sanções econômicas "robustas" que vão "machucar".
"Putin sabe que está isolado como jamais esteve, e nós estamos juntos. Juntos com nossos aliados estamos agora garantindo as sanções poderosas contra eles", disse o americano
Ele garantiu, no entanto, que vai proteger empresas e consumidores americanos dos efeitos colaterais. Para isso, ele anunciou a liberação dos estoques de emergência de petróleo dos EUA e aliados. Serão ao todo 60 milhões de barris, destes, 30 milhões apenas das reservas americanas.
"E estamos prontos para fazer mais, se necessário, junto com nossos aliados", disse Biden. "As ações vão mostrar a Putin que ele ficou mais fraco e o resto do mundo ficou mais forte."
O presidente americano disse ainda que o Departamento de Justiça dos EUA vai investigar e punir oligarcas russos envolvidos em atividades criminosas.
"Hoje eu digo aos oligarcas russos e líderes corruptos que roubaram bilhões de dólares deste regime violento, não mais", disse o americano. "Estamos nos unindo aos nossos aliados europeus para encontrar e apreender seus iates, apartamentos de luxo, jatos particulares. Estamos atrás de seus ganhos ilegítimos."
Presidente Joe Biden no Congresso para seu discurso do Estado da União. — Foto: GloboNews
O presidente americano uniu os dois partidos – Republicano e Democrata – ao anunciar as medidas contra Putin e os oligarcas russos.
Assim que informou sobre as sanções mais recentes contra a Rússia, Biden foi aplaudido por ambos os lados do Congresso americano, apesar de o governo Biden não conseguir unanimidade nos seus assuntos de política interna – como o pacote de infraestrutura, por exemplo.
Em geral, os congressistas aproveitam o Estado da União para enviar mensagens simbólicas ao governo. Neste ano, muitos deles vestiram as cores azul e amarelo, as mesmas da bandeira da Ucrânia, para demonstrar apoio a esta nação e à resposta dos EUA a esta guerra.
Os representantes Brenda Lawrence (D-MI), Terri Sewell (D-AL) e Lisa Blunt Rochester (D-DE) chegam ao discurso do Estado da União no Capitólio dos EUA em Washington, DC, EUA, 1º de março de 2022 — Foto: Sarahbeth Maney/Pool via REUTERS
Além da guerra na Ucrânia, Biden também discursou sobre temas da sua agenda interna. O presidente voltou a defender seu plano de infraestrutura, que encontra resistência no Congresso.
O presidente também apresentou sua proposta para combater a inflação nos EUA, uma preocupação que se agravou durante a pandemia.
"Meu plano para combater a inflação reduzirá seus custos e diminuirá o déficit", dirá Biden.
"Temos uma escolha", disse o democrata. "Uma maneira de combater a inflação é reduzir os salários e tornar os americanos mais pobres. Tenho um plano melhor para combater a inflação."
"Reduza seus custos, não seus salários. Faça mais carros e semicondutores nos EUA. Mais infraestrutura e inovação nos EUA", disse o presidente.
O presidente americano fez um apelo ao Senado para que passe a lei de liberdade de voto, apelidada de lei John Louis.
Ele reforçou o direito ao voto como um direito fundamental e disse que ele vem sendo tolhido por leis estaduais que dificultam os votos principalmente para as comunidades mais vulneráveis.
Biden falou também da indicação de Ketanji Brown Jackson, sua primeira juíza para a Suprema Corte, que deverá passar pela aprovação do Congresso.
Jackson, uma mulher negra, deverá assumir a cadeira do ministro Stephen Breyer, que também foi homenageado durante o Estado da União.
O presidente americano começou o discurso celebrando que neste ano ele pôde ser feito de forma presencial, com o relaxamento das medidas para a Covid-19.
Nos EUA, diversos estados já vêm retirando a obrigatoriedade do uso de máscaras até mesmo em ambientes internos por conta do avanço da vacinação.
"Hoje à noite posso dizer que estamos avançando com segurança de volta a rotinas mais normais", disse Biden.
O presidente ainda lembrou das vítimas da pandemia, e disse que é preciso "ficar em guarda" e continuar a combater o vírus, e sua transmissão, para evitar novas variantes.
"Nunca vamos desistir de vacinar mais americanos", disse o democrata. Nos EUA, 65,2% da população está totalmente vacinada, segundo a plataforma Our World in Data.
Ele disse ainda que o país está prestes a aprovar a vacinação para crianças com menos de cinco anos, e que os cientistas "trabalham duro" para desenvolver tratamentos antivirais.
É o discurso do presidente que ocorre todos os anos em uma sessão conjunta do Congresso americano. Nele, o chefe de Estado e de governo presta esclarecimentos aos parlamentares, militares e integrantes da Suprema Corte sobre a atual situação dos EUA e os planos e prioridades do ano.
O primeiro discurso sobre o Estado da União foi pronunciado por George Washington em 8 de janeiro de 1790.
Tradicionalmente, o presidente norte-americano pede esforços a deputados e senadores para aprovar projetos que o chefe de governo acredita ser importante.