Policial morto no Jacarezinho era conhecido pelo gosto por operações e o conhecimento sobre armas de fogo
Há nove anos na Polícia Civil, o inspetor André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, foi um dos 25 mortos durante a operação na favela do Jacarezinho na manhã de ontem. Ele foi único identificado até ontem à noite. O agente foi baleado quando deixava o veículo blindado, chamado de caveirão, para remover uma das barricadas — feitas com pedaços de trilhos retirados da linha férrea e concretados em latões — de uma das vielas da favela. Baleado na cabeça, o inspetor chegou a ser levado para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.
Massacre no Jacarezinho
André era lotado na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), unidade que tem como atribuição investigar as quadrilhas de traficantes no Estado do Rio. O inspetor foi ferido logo no início da operação. Ao lado do agente, estava o delegado de policia Marcus Amin, titular da Dcod, que por pouco também não foi atingido. Segundo os investigadores, o tiro que atingiu o policial partiu de um criminoso que estava em uma laje na favela. O policial é descrito pelos colegas como um agente com perfil operacional, que gostava de participar de ações da polícia, e que tinha vasto conhecimento sobre armas de fogo.
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Filho únicoO inspetor André Frias era casado e tinha um enteado de 10 anos. Filho único, ele deixa a mãe, acamada há três anos por causa de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O pai do policial já faleceu. Frias já foi lotado na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e estava na Dcod desde o fim do ano passado.
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Na DRFC, André participou da investigação policial que resultou na apreensão de 60 fuzis no Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, em 1º de junho de 2017. O armamento tinha sido trazido de Miami, nos Estados Unidos, para o Rio.
As armas de guerra dos modelos AK-47, G3 e AR-10 estavam escondidas em um carregamento de aquecedores de piscina no terminal de cargas da Receita Federal. Pela atuação, em 2018, foi indicado pelo então deputado Flávio Bolsonaro para receber, da Alerj, uma moção de louvor e congratulações.
Segundo a Polícia Civil, a família do policial está recebendo assistência da secretaria. “A Sepol se solidariza com amigos e familiares, e sente muito a dor pela morte do inspetor que teve uma trajetória ilibada na instituição, sendo admirado e respeitado por todos. Ele honrou a profissão que amava e deixará saudade. Mas também deixa o sentimento de que o trabalho não pode parar”, disse nota da Polícia Civil.
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O secretário de Polícia Civil do Rio, delegado Allan Turnowski, postou ontem em seu Instagram uma mensagem de pesar pela morte do policial. “Vamos honrar o guerreiro, cuidando de sua família e continuar defendendo a sociedade", escreveu ele em sua rede social.
O policial será enterrado hoje, às 15h30, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. O velório está previsto para começar às 9h.
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Em 2017, na favela do Jacarezinho, o policial civil da Core Bruno Guimarães Bühler, de 36 anos, conhecido como Bruno Xingu, também morreu após ter sido baleado na comunidade. Assim como Frias, ele foi atingido quando desembarcava de um blindado. Xingu era atirador de elite da Core.