Isa Penna diz que se sentiu em choque e humilhada após ser apalpada por deputado
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A deputada estadual Isa Penna (PSOL) foi surpreendida durante sessão extraordinária para votar o orçamento do estado de São Palo na noite desta quarta (dia 16). Um vídeo gravado por uma câmera da Assembleia Legislativa de São Paulo mostra o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) passando a mão no seio da deputada.
Nas imagens, é possível vê-lo conversando com outro deputado. No momento seguinte, ele se distancia e segue em direção a ela, que está com as mãos apoiadas na mesa enquanto conversa com um parlamentar. Em seguida, ele chega por trás a apalpando seu seio e ela, imediatamente, tenta afastá-lo.
Em entrevista à Marie Claire, a deputada desabafou e revelou que se sentiu desrespeitada. "Eu me senti violada, invadida, em choque e humilhada depois que 'caiu a ficha'. Toda mulher que já passou por isso, sabe o que estou falando. E caiu rápido a ficha. Foi quando eu entendi que precisava reagir", diz ela.
Ela assegura, no entanto, que esse tipo de atitude não é comum, mas ressaltou que o machismo está presente no dia a dia das parlamentares. "Esse tipo de atitude, como aconteceu hoje, não é normal. Ela não é comum pela maior parte dos deputados. O que acontece, sim, é uma violência machista no sentido de tentar constante desqualificar, desmoralizar, cortar nosso microfone, interromper nossa fala com facilidade", relatou. "Hoje mesmo, circularam vídeos meus dançando, que eu postei em meu perfil no Instagram. Sou uma mulher que danço, sou livre e isso não diz nada sobre a minha competência. Isso diz apenas que eu sou uma mulher livre, portanto, essa atitude não é típica, ainda que o machismo seja", afirma ela.
leia tambémA deputada, conhecida por atuar no combate à violência contra as mulheres, diz que pretende criar um projeto de lei para combater esse tipo de agressão. "A gente, enquanto equipe, pensou em duas diretrizes: primeiro, a de entrar com as medidas cabíveis. Um boletim de ocorrência e representação no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa. E também, temos uma outra diretriz, mais propositiva: queremos fazer um projeto de lei que trate da violência machista nas instituições políticas. Vamos enquanto mulheres do PSOL apresentar isso", contou.
Isa Penna ainda lembra que os homens precisam apreder a não enxergar o sexo feminino como objeto. "Em primeiro lugar, o nosso corpo não é propriedade. Não é uma coisa. Somos um ser humano. Nós queremos ser respeitadas e ter os mesmos limites de respeito para poder existir", diz ela. "Ninguém que tenha o seu corpo violado, tocado sem autorização tem condições de fazer debates, de participar com a mesma presença, então, quando a gente vê esse toque, esse machismo institucionalizado, a gente vê o que os homens pensam sobre os nossos corpos", ressalta. "É evidente que há vários graus e níveis. Há homens que identificam que a sociedade é machista e querem assumir uma outra postura. Eles são mais que bem-vindos, mais que necessários. Eles são importantes porque, infelizmente, tem homem que, até hoje, não escuta as mulheres, não considera a nossa voz e muito menos o nosso corpo. Nós não somos um objeto sexual. Vou continuar sendo livre para passar essa mensagem para as pessoas e vou para cima porque eu sei o que aconteceu. Eu sou advogada e já tive várias experiências de acompanhar violência contra as mulheres e sei da importância que tem da gente demonstrar que existe espaço para denúncia e que a gente pode ter voz", finalizou.
Mais cedo, Isa Penna se manifestou sobre o ocorrido em suas redes sociais. "Fui assediada publicamente pelo deputado Fernando Cury (PPS) em meio à votação do orçamento do Estado na ALESP, na noite de ontem (16), durante a 65ª Sessão Plenária Extraordinária da casa", informou.
A deputada ainda diz: "Durante o início da Sessão, registro público que se encontra disponível na íntegra YouTube, no perfil oficial da ALESP, por volta dos 10min50seg é possível verificar que o deputado Fernando Cury conversa com o deputado Rodrigo Moraes (DEM). Ele realiza um movimento em direção à mim e retorna a conversar com deputado Moraes, que tenta impede-lo com a mão, de se dirigir de novo a mim. O Deputado Cury, no entanto, ignora o gesto e se posiciona atrás de mim e apalpa meus seios, no que é imediatamente repelido por mim! E assim ocorre o assédio", publicou.
leia tambémE lamenta: "Afirmo que a violência política de gênero que sofri publicamente na ALESP, infelizmente não é um caso excepcional".
Em comunicado enviado para imprensa, ela ainda informa que além de registrar formalmente a denúncia do ocorrido, também irá procurar obter o compromisso público do governador João Doria de que seu veto ao projeto de lei 113/2019 que fora aprovado pela casa, intitulado ‘Dossiê Mulher Paulista’, seja derrubado.
O ‘Dossiê Mulher Paulista’, proposto pela deputada Isa Penna durante seu primeiro ano de mandato, consiste na elaboração de estatísticas periódicas sobre mulheres vítimas de violência atendidas pelos equipamentos públicos sob ingerência do Governo do Estado de São Paulo. O projeto, inspirado em proposta similar apresentada pela vereadora Marielle Franco, executada em 14 de março de 2018, foi formulado com o objetivo de oferecer um diagnóstico mais preciso da realidade enfrentada pelas mulheres no estado para embasar a formulação de políticas públicas mais eficientes. Atualmente, o Estado de São Paulo, ao contrário de outros estados brasileiros, não disponibiliza tais dados.