O horário de verão ainda valeria a pena? Especialistas respondem
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Pela primeira vez em 34 anos, não teremos horário de verão. O decreto que instituiu a medida (e que seguíamos até o ano passado) entrou em vigor em 1985 e estabelecia a medida para moradores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas, em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro aprovou o fim da política.
A primeira vez que o Brasil adotou o horário de verão foi em 1931, no governo de Getúlio Vargas. A justificativa era a mesma que se mantinha até pouco tempo atrás: a alteração economizaria energia. Mas isso ainda era verdade?Consultamos especialistas para entender.
O que diz o governo
O Ministério de Minas e Energia disse, em uma nota técnica enviada à reportagem da GALILEU, que a política do horário de verão "deixou deproduzir os resultados para os quais foi formulada, perdendo sua razão de ser aplicada sob o ponto de vista do setor elétrico".
A pasta afirma que realizou vários estudos para recomendar a suspensão da medida. Em uma pesquisa que analisou a performance do horário de verão entre os anos de 2018 e 2019, foram considerados os 30 dias anteriores e posteriores ao início do horário especial, que ocorreu no dia 4 de novembro de 2018.
Os resultados mostraram que o consumo energético aumentou ligeiramente (0,7%) nesse período. O ministério atribui o crescimento a mudanças nos hábitos de consumo energético da população.
A base da pesquisa foram dados históricos de carga de energia elétrica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), além de informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre a temperatura nas principais regiões metropolitanas brasileiras.
O que dizem especialistas do setor de energia
Segundo Ivo Dorileo, presidente da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE), o horário de verão já foi muito benéfico para o sistema elétrico brasileiro. “Em um passado recente, ele apresentou bons resultados e conseguiu uma economia relativamente boa em termos de consumo de energia elétrica”, afirma.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, entre 2010 e 2014, os dias mais longos permitiram uma economia de R$ 835 milhões nas contas de luz - uma média de R$ 208 milhões durante o horário de verão de cada um desses anos.
A última vez que a economia de energia bateu recorde graças à mudança anual no relógio foi em 2013, com R$ 405 milhões poupados. Mas isso caiu para R$ 147,5 milhões em 2016. De lá para cá, diminuiu ainda mais. Daí porque o setor elétrico passou a questionar a prática.
saiba maisMas, o que explica as sucessivas quedas? Segundo Dorileo, não consumimos mais energia do mesmo jeito nos meses mais quentes - como apontam as investigações doMinistério de Minas e Energia. O especialista explica que a alteração aconteceu no horário de ponta, que é quando ocorre um pico na demanda por energia elétrica: nos últimos anos, ele se concentra na parte da tarde (a partir das 14h), e não mais no fim do dia, entre 18h e 21h.
O motivo seria o maior número de aparelhos de ar-condicionado em operação.“Antes o chuveiro era o que demandava mais energia elétrica no horário de pico, quando as pessoas chegavam em casa”, afirma o presidente da SBPE. “Mas mudaram-se os hábitos de consumo do cidadão comum, que também passou a usar mais aparelhos de ar-condicionado e refrigeração”.
Apesar de não haver mais tanta economia de energia, Dorileo explica que o horário de verão traz “benefícios claros” quando falamos da diminuição da demanda máxima da carga – isto é, a potência que a matriz energética precisa oferecer para produzir energia. “Há uma economia de 4% a 5% da demanda, segundo o Operador Nacional do Sistema”, aponta.
Já para João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos, o horário de verão perdeu força, mas ainda apresentaria certa eficiência se tivesse em vigor. “Apesar da economia de energia elétrica ter diminuído muito, a questão da potência ainda traria um benefício positivo”, diz.
Mello levanta outro ponto: com uma maior demanda sem o horário de verão, há uma chance maior de ser necessário recorrer a usinas termelétricas, sobretudo no horário de pico, e elas custam e poluem mais. Geradores de energia eólica e solar também podem ficar sobrecarregados. Para o especialista, o horário especial garante maior segurança ao sistema elétrico do país.
*Com supervisão de Luiza Monteiro
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