Topics quentes fechar

Cobertura vacinal em crianças registra menores índices da história do país

Cobertura vacinal em crianças registra menores índices da história do país
As principais doses para bebês não atingiram a meta em 2019, e situação pode se agravar ainda mais por conta da pandemia.

 (Elena Sharipova/Getty Images)

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, outrora referência mundial em vacinação infantil, enfrenta uma crise sem precedentes. Em 2019, nenhuma das principais vacinas para crianças atingiu a cobertura ideal, que varia entre 90 e 95%, de acordo com a doença. 

No caso da tríplice viral, que protege inclusive contra o sarampo, a taxa de cobertura no ano passado foi de 57% na primeira dose e 48% na segunda, segundo o DataSUS. É o menor índice desde 2003, quando a vacina passou a integrar o PNI. A vacina BCG, da tuberculose, caiu de 106% de cobertura em 2010 para 52% em 2019. 

Já o imunizante contra a hepatite B foi de 96% em 2010 para 55% em 2019. A situação, preocupante, não é exatamente uma novidade. A queda se acentou a partir de 2015, e em 2017, o Brasil atingiu a menor taxa de cobertura vacinal entre bebês desde 2002.

Diversos fatores justificam esse cenário. Um deles, que pode influenciar na veracidade dos números, é a mudança do registro feito pelo Ministério da Saúde. Antes, a contagem era feita por doses distribuídas aos estados e municípios. 

Agora, é preciso anotar num sistema digital cada aplicação feita no postinho ou em outro lugar – processo ideal, mas que enfrenta desafios burocráticos, falta de infraestrutura e até mesmo de funcionários para fazer as atualizações online.

“Há um subregistro, então não conhecemos a real magnitude da cobertura, mas é fato que ela não está adequada, e a volta do sarampo é um resultado direto disso”, explica Renato Kfouri, pediatra e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Em 2019, o país perdeu o certificado de erradicação do sarampo, e registrou mais de 13 mil casos da doença, com 15 mortes. Quando o vírus retornou ao país, em 2017, a cobertura vacinal era de 84%. 

Perda de importância e desabastecimento 

De certa maneira, as vacinas são vítimas do seu próprio sucesso. “O fato de termos controlado ou eliminado a maioria dessas doenças faz com que os mais jovens, que não viram amigos morrendo, filhos internados ou com sequelas, não coloquem a vacinação como prioridade”, comenta Marco Aurélio Sáfadi, pediatra e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo. 

Essa perda de importância não atinge só os pais. “Até os pediatras mais novos acabam recomendando a imunização com menos veemência por conta disso”, pontua a infectologista Camila Almeida, do Hospital e Maternidade Santa Joana. 

Mesmo quando a família preza pela vacinação, não é tão simples cumprir o calendário do PNI. São dezenas de doses, com intervalos curtos, especialmente no primeiro ano de vida, aplicadas geralmente nos postos de saúde, que funcionam em horário comercial, dificultando o acesso de quem trabalha.

“Além disso, estamos enfrentando com frequência o desabastecimento. O mundo consome mais e não tem reposição para todas, então pequenos problemas na cadeia, como um lote defeituoso, já afetam a distribuição”, aponta Kfouri. Doses da BCG, pentavalente e outras andaram em falta nos últimos anos. 

O movimento antivacina é mais discreto no Brasil, mas preocupa. “Apesar de não haver um movimento tão estruturado, as fake news que circulam criam cenários mentirosos sobre eventuais efeitos negativos que assustam a população”, destaca Safádi. 

As consequências da queda 

O raciocínio é bem simples: quanto menos vacinados, mais chances de doenças já esquecidas voltarem. “Estamos falando de uma série de males preveníveis que podem se espalhar rapidamente, como a rubéola, coqueluche, paralisia infantil, além de diarreias, pneumonias e meningites”, elenca Kfouri. 

Ao atingir altos níveis de imunizados, se protege ainda quem não pode mesmo ser vacinado, como portadores de doenças autoimunes, crianças com câncer e outros. Se muita gente abrir mão delas, estamos criando um terreno fértil para o retorno de épocas com alta mortalidade infantil. 

Isso vale mesmo para doenças já praticamente erradicadas do planeta, como a poliomielite. “Exceto a varíola, elas continuam ocorrendo, mesmo que em poucos lugares. No caso da pólio, chegam voos dos dois países (Paquistão e Afeganistão) onde ela ocorre todos os dias no Brasil, e basta um infectado em uma população de várias crianças suscetíveis para que ela se espalhe novamente”, alerta Kfouri.

Vacinas são seguras sim!

Em tempo de explosão de fake news e de estudos para a vacina da Covid-19 sendo acompanhados de perto, é bom reforçar que as vacinas são seguras, gratuitas, e uma das maiores conquistas da história da humanidade. Junto com a água tratada e o saneamento básico, elas são as principais responsáveis por nossa expectativa de vida ter saltado tanto. 

O Brasil é referência no assunto. “Distribuímos 300 milhões de doses ano e não vemos efeitos colaterais importantes”, destaca Camila. Para se ter ideia, a chance de acontecer algum efeito colateral importante com quem toma a vacina da pólio é uma em cinco milhões. Mas 40% das crianças que não estão protegidas, se contraírem o vírus, terão lesões severas com sequelas e até risco de morte. 

Pandemia pode piorar a situação 

Vale dizer que os dados que discutimos aqui são de 2019. É certo que a pandemia piorará ainda mais a situação, como alertou o Ministério da Saúde. “As pessoas deixam de vacinar os filhos por entenderem que isso pode esperar, não é urgente, mas é um pensamento equivocado”, alerta Kfouri. 

Há a preocupação de, passada a pandemia, termos uma explosão de doenças, incluindo as completamente evitáveis com uma injeção ou uma gotinha na boca. “São doenças, aliás, muito mais graves para os bebês do que a própria Covid-19”, diz Safádi. 

Quem acabou atrasando as doses pelo medo de contrair o novo coronavírus pode aproveitar a próxima campanha de multivacinação para atualizar a carteirinha. Organizada pelo Ministério da Saúde, ela acontece de 05 a 30 de outubro, e 17 é o dia D, quando mais locais estão disponíveis. Veja como manter a vacinação das crianças em dia mesmo no meio da pandemia. 

 

Shotes semelhantes
Arquivo de Notícias
  • Fiat Argo
    Fiat Argo
    Argo Trekking: conheça o carro vencido por Ivy em prova do Anjo no BBB
    6 Mar 2020
    2
  • Aaron Tura
    Aaron Tura
    Band confirma demissão do colunista Aaron Tura após polêmicas envolvendo Gugu Liberato e Isis Valverde
    14 Dez 2019
    3
  • Raissa da Fazenda
    Raissa da Fazenda
    A Fazenda 12: quem deve sair entre Rodrigo, Raíssa, Biel e Juliano Ceglia
    30 Set 2020
    1
  • Jogos do Google
    Jogos do Google
    Jogo do Google ensina programação de forma divertida
    27 Abril 2020
    3
  • Mulher
    Mulher
    Funpresp Mulher+: campanha celebra Dia da Mulher
    8 Mar 2024
    2
  • Gabriel Medina
    Gabriel Medina
    Gabriel Medina conquista a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos
    5 Agosto 2024
    18
Shotes mais populares dessa semana