Gol de Vinícius Júnior foi tapa na cara do preconceito, um "chupa, racista"
Com mais de 1 milhão de habitantes, São Gonçalo é um município pobre na região metropolitana do Rio de Janeiro. Grudado em Niterói, perto da capital, a cidade do Rio de Janeiro, antigo Estado da Guanabara, onde trabalham muitos, a maioria talvez, dos habitantes do território gonçalense.
De acordo com o site do IBGE, em média os trabalhadores formais do município ganham dois salários mínimos, algo em torno de R$ 2,4 mil. Já o percentual da população com rendimento nominal mensal médio de até meio salário mínimo gira em torno dos 35%.
No IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), São Gonçalo é o 14º no ranking fluminense (0,739), está fora do ranking dos 100 melhores no país. Já Niterói, a cidade vizinha, aparece em sétimo na lista nacional e em primeiro no Estado do Rio de Janeiro, as diferenças sociais são evidentes.
Foi lá em São Gonçalo, no bairro do Mutuá, que Vinícius Júnior cresceu. Qual chance de sucesso na vida tem um garoto nascido em região menos favorecida economicamente, de família pobre? Pequena. O futebol é um caminho, ainda assim, dificílimo.
Quando o menino cresceu na base do Flamengo e entrou na mira do Real Madrid, virou notícia. Mas ao invés de torcerem por ele, muitos fizeram o inverso. Houve de tudo. Deboche, previsões de fracasso, ironias de viés preconceituoso e até racismo.
Na latrina das redes sociais ele era insultado. Racistas torciam contra o garoto e se deliciavam, escondidos atrás de perfis falsos, ou não. Aos microfones, não faltou quem fizesse previsões de fracasso do rapaz, como não se costuma ver quando um jovem como ele se aventura no futebol europeu.
Era o "Neguebinha", como repetiam os metidos a engraçadinhos sem graça, em referência a Guilherme Ferreira Pinto, o Negueba, atacante como Vini, também cria do Flamengo, mas que não decolou. Em maio ele deixou o Criciúma, seu último clube.
O desrespeito com o jogador, hoje com 30 anos, era a ferramenta para achincalhar Vinícius. "É só brincadeira", diziam alguns. Será? Em todos os casos? Mesmo? Não. Na realidade, os incomodava o fato de Vini não ter seguido o caminho de Negueba, que infelizmente não se tornou um craque.
Como era possível o menino pobre de São Gonçalo ir tão longe? Para quem deseja ver pessoas como ele sempre por baixo, a servi-los, realmente incomoda. E some-se a isso o clubismo. Os biltres são, sim, capazes de torcer contra pelo fato de ter sido revelado por um time rival.
Campeão da primeira divisão do futebol espanhol, campeão da Uefa Champions League, autor do gol que valeu o título, o mundo inteiro o conhece. O tento de Vinícius Júnior dando ao Real Madrid o 14º troféu europeu foi um tapa na cara dos racistas, dos preconceituosos, dos supremacistas.
Ele venceu. A quem um dia torceu contra, apenas uma palavra pode ser direcionada nesse momento de triunfo absoluto: CHUPA!
Siga Mauro Cezar no Twitter
Siga Mauro Cezar no Instagram
Siga Mauro Cezar no Facebook
Inscreva-se no Canal Mauro Cezar no YouTube