Como Gabriel Jesus foi de "sucessor de Agüero" a ponta direita no City
Quando Gabriel Jesus chegou ao Manchester City em 2017 e fez sete gols em seus dez primeiros jogos na Premier League, a expectativa em torno dele se formou rápida: seria ele o sucessor de Sergio Agüero, maior artilheiro da história do clube, que já estava se aproximando de seus últimos anos como um centroavante de elite? Hoje, porém, o técnico Pep Guardiola considera o brasileiro muito mais um ponta do que um fazedor de gols. O que mudou?
Para responder a essa pergunta, podemos voltar ao último jogo do City, sábado (21) passado, na goleada por 5 a 0 sobre o Norwich. Jesus não fez nenhum gol, mas foi eleito o melhor em campo. Atuando pela ponta direita, realizou a jogada que resultou no gol contra do goleiro Krul e deu mais duas assistências. No segundo tempo, com a entrada de Mahrez, mudou de lado e terminou o jogo na ponta esquerda.
O curioso é que os dois jogadores que fizeram a função de centroavante na partida são pontas de origem: Ferran Torres e, depois, Sterling. Por que não usá-los abertos no ataque, com Jesus por dentro? Guardiola explicou sua lógica depois do jogo.
"Eu conversei com Gabriel e ele, às vezes, gosta de jogar mais aberto. Ferran tem um senso de gol um pouco maior quando joga por dentro, os movimentos dele são mais em direção ao gol. Gabriel gosta de recuar para se associar, e, com a nossa falta de gols recente, precisamos de um cara que se mexa mais em direção ao gol", disse o treinador.
É claro que jogar como ponta não é novidade para Jesus — desde o Palmeiras, já mostrou várias vezes ter a capacidade de atuar aberto ou por dentro. A diferença, agora, é que Guardiola tem optado por escalar o brasileiro na ponta mesmo quando não há um camisa 9 de ofício disponível.
A média de gols de Jesus no City não se manteve naquele nível impressionante de sua primeira temporada, mas também está longe de ser ruim: são 82 gols em 198 jogos, nem sempre como centroavante ou como titular. Levando em conta os minutos em campo, é uma média de um gol a cada 145 minutos — mais que um a cada dois jogos completos.
Ainda assim, o City fez da contratação de um centroavante uma grande prioridade nessa janela de transferências, após a saída de Agüero para o Barcelona. Tentou bastante tirar Harry Kane do Tottenham, mas o clube londrino bateu o pé e não liberou seu artilheiro. Agora, a bola da vez é ninguém menos que Cristiano Ronaldo, que quer sair da Juventus.
Isso não quer dizer que Jesus não tenha moral com Guardiola, Pelo contrário, o técnico costuma sempre elogiar o brasileiro e, segundo a imprensa europeia, barrou a saída dele em uma possível negociação envolvendo a vinda de CR7 da Juve. Apesar de não ser titular absoluto, ele é visto como peça importante no City.
A tendência de usar Gabriel Jesus mais como ponta também tem sido vista na seleção brasileira recentemente. O jogador, que chegou a ser o artilheiro do Brasil nas Eliminatórias da Copa de 2018 atuando no comando do ataque, foi escalado por Tite sempre aberto pela direita na última Copa América, com o posto de centroavante ocupado por Richarlison, Firmino ou Gabigol.
No clube ou na seleção, Jesus deve agora competir muito mais com os pontas do que com os centroavantes por um lugar na equipe. Não que isso facilite para ele: no City, por exemplo, seus concorrentes agora são nomes como Mahrez, Foden, Sterling e o recém-chegado Grealish. O páreo continua duro, mas, se depender de Guardiola, é aí que ele vai brigar.