Diogo Nogueira combina música e culinária em live romântica, em que ensina receita com frutos do mar: ‘Afrodisíaca’
Quem canta seus males espanta; quem cozinha se alimenta de amor. Diogo Nogueira tem amenizado o amargor da rotina tediosa, imposta pela pandemia, com boa música e saborosas receitas, a cada live que realiza diretamente de sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. Neste domingo (14), acontece, por meio de seu canal no YouTube, outra edição da apresentação virtual, um tanto mais romântica, devido à proximidade com o Dia dos Namorados, comemorado na última sexta-feira. O sambista promete temperar a tradicional hora do almoço, meio-dia, com seus indefectíveis sucessos e embalar os apaixonados com canções selecionadas especialmente para a ocasião, enquanto prepara um caprichado espaguete com frutos do mar.
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— Pra mim, não tem comida mais afrodisíaca do que frutos do mar. Essa é a minha especialidade na cozinha, e eu sempre preparo com arroz ou uma massa. É o meu prato preferido, da Jéssica (a advogada Jéssica Vianna, de 28 anos, sua namorada há dois) também. Fiz na primeira vez em que cozinhei pra ela aqui em casa. Acho que também a fisguei pelo estômago — confirma Diogo, por telefone, depois de consultar sua “Preta”, com quem enfrenta a quarentena.
Na primeira live apresentada por ele, em 26 de abril, dia em que celebrou seus 39 anos, o cantor e compositor surpreendeu os fãs com seus dotes culinários ao dar show também na preparação de uma moqueca de camarão. Na ocasião, brotaram memes e comentários engraçadinhos na internet, do tipo “Deixa eu ser teu Louro José?”, “Diogo Nogueira já pode cobrir as férias da Ana Maria Braga no ‘Mais você’” e “Minha mulher tá vendo Diogo Nogueira cozinhando e dizendo que deu até água na boca. Deve ser porque já são quase 13h, né?”.
— Só tem figura! — diz, às gargalhadas, o carioca, que é telespectador assíduo dos programas de culinária da TV: — Assisto e memorizo as dicas de Claude Troisgros, Felipe Bronze, Rita Lobo, Rodrigo Hilbert... Eu cozinhei com Rodrigo no “Tempero de família” (do canal GNT). Inclusive, uma das receitas que aprendi com ele, o escondidinho de rabada, foi parar no meu livro (o digital “Diogo na cozinha”, lançado no início de abril). É feito com aipim e coberto com uma camada de banana da terra. Uma delícia! Fiz essa homenagem ao Rodrigo, um cara íntegro, humilde e pé no chão total, que eu admiro.
Considerado pelas fãs mais um exemplar da espécie “Homão da Porra”, por ser bonito e prendado, Diogo não é de abanar a própria chama.
— Sou assediado como qualquer artista é, do mais feio ao lindo. Isso vale para todos, tem sempre gente em volta. Receber elogio é bom, mas eu me considero um cara supernormal. Sou vaidoso, gosto de me vestir bem, estar sempre cheiroso e tal. Mas não me acho o gostosão, não — pontua, garantindo não ter outros talentos surpreendentes, como Hilbert, que faz até crochê: — Eu só me aventuro na cozinha mesmo (risos)... Meu lance é mais com as artes e com os esportes.
Para afazeres como limpeza e consertos, ele prefere contratar mão de obra especializada.
— Aos fins de semana, se tiver que varrer, lavar uma louça, eu até faço, mas não é a minha praia — admite ele, assumido acumulador de talheres, vasilhas e panelas sujos na pia enquanto se dedica a forno e fogão: — Jéssica ajuda a organizar tudo, é minha assistente pessoal. Ela sabe o básico, mas nunca cozinhou pra mim. Está dizendo aqui que “não tem nem como!” (mais risos).
Contrariando os machistas de plantão, para Diogo, lugar de homem é na cozinha, sim!
— E por que não? É um lugar de muito amor, onde as pessoas compartilham sentimentos. Não tem cômodo mais especial e energético. Pra você ver como eu gosto de cozinha: tenho duas em casa! A externa, onde eu faço as lives, e a interna, ligada à sala, onde meus convidados interagem comigo enquanto preparo a comida. A gente bate papo, bebe um vinho, dá umas boas risadas...
E a parafernália para “fazer a mágica acontecer” não é nada amadora:
— Gosto de uma comida caprichada. Então, tenho panela de ferro, de barro, coifa e fogão industrial. E um forno de temperatura baixa para cozinhar por muitas horas uma bela costela.
Assim como as lives, os shows de Diogo na cozinha de casa só acontecem aos fins de semana e em ocasiões especiais. O trivial fica por conta de dona Alba, funcionária que mora com ele. No sábado, dia 6, quando concedeu esta entrevista à Canal Extra, o cantor estava prestes a preparar um talharim com tinta de lula.
— O almoço aqui em casa costuma sair às 13h, 13h30. E, aos fins de semana, às 14h30, 15h, porque faço sem pressa, curtindo. É um prazer, adoro! — enfatiza, contando qual é seu tempero indispensável e favorito: — Na minha cozinha não pode faltar azeite. Se a gente não azeitar a vida, nada funciona. Essa semana, usei um extravirgem para fazer um tempero com alho, cebola, azeitona, cebolinha, pimenta e tremoços. Ficou uma coisa de louco!
Para deixar tudo ainda mais gostoso, também rola batuque nas panelas. A alquimia dos sabores se dá ao som de um bom samba de raiz.
— Cozinho ouvindo Zeca (Pagodinho), Martinho (da Vila), meu pai (João Nogueira), Beth (Carvalho), Alcione, Seu Jorge, Maria Rita, Fundo de Quintal, Sombrinha, Luiz Carlos da Vila, Cartola, Teresa Cristina... O samba dá fome! É por isso que nas rodas sempre tem aqueles panelões de rabada, feijoada, mocotó... — atesta.
Mas quem brinca com fogo também corre o risco de se queimar. Ou passar do ponto numa fornada de pizzas...
— Eu tenho um amigo, Pedro Pernambuco, que vem me ensinando a fazer pizza. É difícil o processo. Tem aquelas fáceis e rápidas, mas o que eu sempre quis foi acertar nas italianas de verdade, com massa fina, borda grossa e aerada. Bolo eu não faço, não acho tão simples — entrega ele, dizendo que já errou na mão: — Na primeira vez que testei essa pizza italiana, deu ruim. Ficou horrível! Ainda não consegui chegar ao ponto perfeito, mas estou bem próximo. Precisa de prática, então estou fazendo quase todo domingo. Nessa quarentena, tenho me reinventado longe da vida agitada, cheia de viagens. Estou gostando muito de ficar em casa, na minha.
Se no palco Diogo tem o riso fácil, solar, e se solta no remelexo, longe do microfone, faz o tipo reservado. Se o assédio passa dos limites, é possível até que o tempo feche.
— As fãs mulheres são muito intensas, avançam. É meio bizarro. Eu tento fazer o melhor possível, agradar, mas tem vezes em que passam dos limites, perdem o respeito. Aí não dá para conversar nem tirar foto. Tem fã que acha que você é dela por inteiro. O contato vira agressão. Nesse casos, é melhor eu ficar aqui, e a pessoa, lá — detalha, sobre cantadas indecentes e apalpadas indevidas, que ele garante não incomodarem sua eleita: — Jéssica é supertranquila com isso, graças a Deus. É uma mulher inteligente, né? Ela sabe que toda noite eu vou dormir é com ela.
A porção romântica de Diogo, ele garante, não é só de ocasião:
— Sou carinhoso, gosto de dar presentes... Se a gente não agrada sempre quem ama, fica estranho. É claro que tem uns momentos especiais, em que você dá uma exagerada, mas o dia a dia a dois é fundamental. Eu não me lembro de ter feito nenhuma loucura de amor, mas são muitas as surpresas. Quando a pessoa não espera, receber uma declaração é bonito, emociona. Romance é que nem receita de bolo: tem que fazer com amor até o fim, senão ele sola.
Após o término do casamento de 15 anos com a personal trainer Milena, de quem continua amigo, Diogo conta que tem vontade de oficializar a união e de ter filhos com Jéssica.
— A gente se trata como quase casados, porque já mora junto. Eu me casaria novamente, por que não? E tenho vontade de ter mais filhos, Jéssica também. Se vai ser para breve, quem sabe dizer? — lança a retórica o pai de Davi, de 14 anos, e padrasto de Matheus, de 22, de seu relacionamento anterior.
Davi faz aulas de violão e já se mostra afinado no canto, segundo Diogo. Mas herdou uma outra característica do genitor: é muito tímido, dificuldade que vai precisar contornar se também quiser seguir carreira artística, sina de família. O garoto, que se reveza entre as casas do pai e da mãe a cada 15 dias, adora observá-lo junto às panelas, e acabou batizando um dos 20 pratos selecionados para o livro de receitas do sambista.
— É o Risoni do Davi, uma massa italiana, que parece arroz, que eu incrementei. Depois dos churrascos que faço aqui em casa, costumo pegar as sobras de carne e transformar em carreteiro. Um dia, resolvi fazer com risoni, em vez de arroz. E ficou delicioso, porque a massa absorveu o tempero do molho. Davi simplesmente ama esse prato! Tenho que fazer toda semana que ele está comigo — explica Diogo, agradecido por o filho ser bom de garfo: — Quando eu falo para ele experimentar, ele já se adianta. Não preciso obrigá-lo a comer nada. A pessoa tem que provar para saber se realmente não gosta da comida. E ele se amarra em todas que eu faço.
Apesar de hoje em dia “mandar pra dentro até jiló e fígado”, sem cara feia, o cozinheiro de mão cheia lembra que teve o paladar insistentemente testado por seu pai na infância:
— Quando eu era criança, só gostava de arroz, feijão, bife e batata frita. Mais nada. Lá em casa, toda segunda-feira era dia de dobradinha; fígado, na terça; mocotó, na quarta. Todo dia tinha um menu de que meu pai gostava. Aí, ele me obrigada a comer pelo menos um pedaço de cada. Eu só podia sair da mesa depois disso. Se não comesse, ficava de castigo ali, sentado. Eu acabava comendo, porque não queria perder o tempo livre para brincar. Detestava, mas isso foi muito bom pra mim. Ele dizia: “Você não gosta agora, mas quando o seu paladar aguçar, você não vai querer comer outra coisa”. E tinha razão: tudo é uma questão de costume. Isso formou o meu paladar, e hoje eu como de tudo.
Além da veia artística, o gosto pela culinária é coisa de família, ele sublinha.
— Todo mundo aqui em casa cozinha muito bem. Minha mãe (Ângela) sempre educou a mim e a minhas irmãs (Valéria, Tatiana e Clarisse) na cozinha. Aos 12 anos, eu já preparava o meu ovinho para o café da manhã, um arroz com feijão... Meu pai também teve muita influência nisso. Sempre que ele queria reunir a família em casa, ia para o fogão. E a gente fazia aquela resenha! Ficava à mesa batendo papo até tarde — relembra, saudoso: — Ele também só cozinhava em ocasiões especiais. Sua especialidade, por incrível que pareça, era o caruru. Comida baiana, de santo, né? Tanto é que existia uma festa chamada “Caruru do João”, que acontecia sempre no dia do seu aniversário. Ele cozinhava, e eu, minhas irmãs e minha mãe ajudávamos a cortar o quiabo, a cebola e tudo mais.
Mas foi com um bacalhau ao forno com legumes, rememora Diogo, que no dia 4 de junho de 2000 João Nogueira reuniu a família em torno da mesa. E esse encontro gastronômico, que tinha tudo para ser especial, tornou-se bem indigesto.
— Ele se despediu da família justamente na hora do almoço (e, na madrugada seguinte, morreu infartado). É estranho pensar na certeza que ele tinha de que aquele era seu último dia de vida, ninguém acreditava. Você imagina: a pessoa cozinha para todo mundo e diz, de cara limpa e sorridente, que está indo embora... Ele fez um discurso para cada um de nós, dizendo o que a gente deveria fazer dali em diante. Meu sobrinho, João Pedro, já estava na barriga da minha irmã Tatiana, e meu pai nem sabia. Seria o segundo neto desse cara que sempre adorou o título de avô — lembra Diogo, continuando: — Ele já tinha se recuperado em praticamente 90% (do acidente vascular cerebral sofrido no ano anterior), já tinha voltado a trabalhar, estava cantando e ia gravar disco. Mas a vida é isso, né? A única coisa que a gente sabe é que vai morrer, e ninguém está preparado para essa única certeza. Meu pai cumpriu a missão que tinha aqui. E que missão! Deixou um enorme legado musical, uma grande história de vida e arte.
Vinte anos depois, Diogo afirma que a fatídica data não lhe traz mais melancolia.
— Só fico surpreso, achei que os artistas iam lembrar, e não. Só a família e os mais próximos o homenagearam. Mas eu sei que ele está bem, virou luz e nos protege. Não tem por que eu ficar remoendo, arrastando correntes. Lembro dele sempre com pensamento positivo, alegre, cantando. Porque é isso que ele quer — afirma: — As maiores lições que meu pai me deixou foi ser generoso, responsável, digno e jamais aceitar injustiças. Também herdei sua personalidade forte. Sou um taurino teimoso.
Não é de hoje, o cantor tem matado a saudade de sua maior referência enquanto dorme:
— Esta semana mesmo, tive um sonho com ele. Já aconteceu de compormos juntos nesses momentos umas quatro vezes, mas eu só consegui me lembrar de uma parte da canção, que terminei de escrever com Mosquito e Inácio Rios. Meu pai sempre me avisa: “Acorda, que você vai esquecer a música!”. Pior é que acontece. Ele sempre tem razão!
Sabor de quê?Infância: “Bala Juquinha”
Adolescência: “Cerveja”
Juventude: “Beijo na boca”
Sucesso: “Felicidade”
Samba: “Uma rabada suculenta”
Descanso: “Casa”
Trabalho: “Palco”
Paixão: “Coração acelerado”
Saudade: “João Nogueira”
Ele joga nas 11
1 - Cantor: “Eu faço os exercícios que o fonoaudiólogo passa, o aquecimento para alongar as cordas vocais. Ar-condicionado e bebida gelada não fazem mal à voz, isso é mito. Tomo a minha cervejinha, sim”.
2 - Compositor: “Não componho diariamente. Tem vezes em que faço três ou quatro músicas numa mesma semana; tem outras em que demoro um mês para escrever um samba”.
3 - Jogador de futebol: “Quase me tornei um profissional do futebol. Eu jogava como centroavante (no Cruzeiro de Porto Alegre), mas sofri uma grave lesão no joelho, que me tirou dos campos. Hoje, bato bola com os amigos”.
4 - Surfista: “Já participei de campeonatos, ganhei troféus... Surfo desde os meus 6 anos de idade”.
5 - Cozinheiro: “É um dos grandes prazeres da minha vida”.
6 - Apresentador de TV (“Samba na Gamboa”, da TV Brasil): “No início, foi difícil me soltar, eu sou tímido. Mas depois peguei o jeito, ficou leve, virou um bate-papo gostoso entre amigos”.
7 - Ator (“Sambra, 100 anos de Samba”): "Fiz teatro musical, foi ótimo! Novela, eu não sei se faria, mas cinema me interessa. Quem sabe não interpreto uma das fases da vida do meu pai no filme sobre ele? Mas vou passar por teste, como qualquer ator. É o justo”.
8 - Autor de livro de receitas (“Diogo na cozinha”): “Durante a quarentena, surgiu a ideia do livro. Passei quatro dias preparando cada uma das 20 receitas e fotografando. O legal é que as pessoas têm conseguido fazer os pratos em casa com facilidade também”.
9 - Lutador de jiu-jítsu: “Eu luto desde os 12 anos. Treinei dos 12 aos 16 e parei. Aí, há três anos, voltei a praticar. Estou na faixa azul. Nunca precisei usar da força para me defender, graças a Deus. E também tenho os meus momentos de fragilidade. Mas é difícil eu chorar. Tem que ser uma coisa muito forte para me tirar lágrimas”.
10 - Apresentador de programa de rádio (Transcontinental FM, em SP, e Rádio Globo FM, no RJ): “Eu fiz o ‘Batucada boa’ em São Paulo, ao vivo, entrevistando artistas do samba e cantando junto com eles; e, aqui no Rio, a Rádio Globo. Foram ótimas experiências!”.
11 - Produtor de discos: “O ‘Bossa negra’, eu produzi junto com Hamilton de Holanda; o ‘Munduê’, com Rafael dos Anjos e Chapinha. Com a pouca experiência que tenho, acho que consigo dar umas ideias interessantes”.