É melhor prevenir do que remediar
O velho ditado popular que reproduzi no título deste artigo ganha extrema atualidade na presente conjuntura de um mundo ainda abalado pela Covid-19 e incapaz de conter o recrudescimento de doenças como a tuberculose e a varíola dos macacos, entre outras. Torna-se cada vez mais evidente que as políticas públicas para o enfrentamento dos desafios no setor médico-hospitalar precisam priorizar a valorização da saúde, para não transformar o tratamento de doenças em finalidade principal da assistência à população.
Tais reflexões são congruentes com os propósitos do Dia Nacional da Saúde, 5 de agosto, de conscientizar as pessoas sobre a importância da educação sanitária e de um estilo de vida mais saudável. Não é sem razão que a comemoração é alusiva ao nascimento do médico Oswaldo Cruz, que veio ao mundo naquela data, em 1872. Não só na sua memorável e heroica campanha de vacinação contra a febre amarela, que praticamente erradicou a forma urbana da doença, como em outras ações ao longo da vida, ele demonstrou a eficácia da prevenção.
Porém, assim como fez o memorável brasileiro, políticas públicas eficientes no campo da saúde exigem extremo empenho, resiliência ante mitos e negacionismos e elevada capacidade de comunicação com a população. Assim, são importantes campanhas sistemáticas de promoção de hábitos saudáveis de alimentação e vida, cuja adoção crescente pelos habitantes resultaria em proporcional redução de casos e mortes por doenças cardiovasculares, por exemplo, as que apresentam o maior número de casos no Brasil e no mundo.
Vacinação, como acaba de se demonstrar no enfrentamento da Covid-19, é fundamental. Check-ups periódicos e busca de atendimento logo no aparecimento de sintomas são outras atitudes importantes para a prevenção e o tratamento precoce de numerosas doenças, como o câncer, reduzindo muito a mortalidade e garantindo boa qualidade de vida após o término dos tratamentos. São procedimentos que, cada vez mais, precisam ser incorporados à cultura dos brasileiros, o que exige campanhas bem elaboradas e sistemáticas de educação.
No âmbito do SUS, que já deu mostras suficientes na pandemia de seu potencial como maior sistema público de saúde do mundo em número de usuários, um avanço fundamental em termos de medicina preventiva seria investir mais em ambulatórios, com a devida estrutura de médicos, funcionários e equipamentos. É fundamental, também, uma retaguarda moderna e acessível de exames laboratoriais e de imagem.
Esse seria um grande salto na qualidade da assistência médico-hospitalar brasileira, considerando que o correto atendimento clínico dos pacientes, mais ainda hoje, com avançados recursos tecnológicos para diagnósticos, soluciona cerca de 85% dos casos, segundo dados do próprio Ministério da Saúde. Tal estrutura evitaria o agravamento de muitas doenças e reduziria de modo expressivo o número de internações.
A menos de dois meses das eleições, este Dia Nacional da Saúde e a memória de Oswaldo Cruz, inspirador da data, merecem a reflexão de todos os candidatos a governos estaduais, Presidência da República, assembleias legislativas, Câmara dos Deputados e Senado. O SUS é responsabilidade compartilhada da União e das unidades federativas, mas pertence a todo o povo brasileiro. Ampliar sua capacidade de ofertar práticas preventivas de qualidade seria um marco emblemático da história da assistência médico-hospitalar em nosso país.
Fernando Silveira Filho – Presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed)
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