"Rei" do amador em SP, estreante na Copinha teve ajuda de ex ...
Futebol Raíz: conheça a história do futebol amador de Brodowski, SP
Em meio ao mercado de SAFs e empresas tomando conta das gestões de clubes de futebol, um dos 20 estreantes da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano se destaca pela tradição dentro das quatro linhas e pela relação familiar entre os dirigentes.
O Bandeirante é um clube amador de Brodowski (SP), a cidade do artista plástico Candido Portinari, localizada a 337km de São Paulo. Entre 1962 e 1972, o Jaburu, como é apelidado por utilizar o uniforme com as mesmas cores da ave, era presidido por Joaquim Saul de Oliveira Passos, o Quinzinho.
O amor do ex-mandatário pelo Bandeirante foi passado para seus filhos. Os irmãos Guilherme Aleixo (presidente), Márcio Aleixo (vice-presidente) e Joao Victor Aleixo (diretor executivo), comandam o clube desde 2002.
– A gente brinca que é doente pelo clube, mas mais do que isso, é um legado que nosso pai deixou para nós. A gente ouve histórias da época do meu pai, de pessoas contando sobre o amor que ele tinha pelo clube. Eu mesmo não conheci meu pai, ele morreu quando eu era muito criança, mas esse sentimento refletiu em mim. É uma emoção que não dá pra explicar, ainda mais quando a gente vive os sentimentos à flor da pele, estando no dia a dia e tentando levar com muito profissionalismo – explica o presidente Guilherme Aleixo.
Quinzinho presidiu o Bandeirante por dez anos — Foto: Acervo pessoal
Fundado em 16 de agosto de 1933, o time é o atual tricampeão amador do estado e conquistou 11 vezes o Campeonato Regional da Liga Brodowskiana. O principal rival é o Brodowski FC, associação que leva o nome do município e contra quem protagonizou dérbis inesquecíveis para a cidade de 25 mil habitantes.
Para os irmãos Aleixo, a paixão pelo Bandeirante vai muito além dos campos. São 22 anos desde que os filhos de Quinzinho assumiram o clube e vivenciam diariamente tudo o que envolve o Jaburu. Entre as loucuras já feitas para estar próximo do time do coração está uma viagem com mais de 20 horas de duração.
–Temos propriedades em Rondônia. Saí da fazenda para pegar um avião a 250km do local. O Bandeirante iria jogar em São Paulo. Quando chegamos, o embarque já tinha sido fechado e precisamos andar 1000km de carro para pegar um voo em Cuiabá, direto para Guarulhos e chegamos faltando duas horas para a partida – conta o presidente.
Primeira vez na Copinha
Integrante do Grupo 6 ao lado de Botafogo-SP, Azuriz-PR e Tuna Luso-PA, o estreante realizou investimentos no estádio, para que a cidade pudesse receber pela primeira vez na história uma edição de Copa SP. Também houve um forte investimento de R$ 250 mil para filiar o clube às competições de base da Federação Paulista de Futebol (FPF) e disputar a Copinha em 2025.
– Fizemos nossa filiação há dois anos, do sub-11, ao sub-20. Fizemos um investimento alto e adequamos o que precisava no estádio. Já queríamos disputar a Copinha no ano passado, mas a Federação disse que ainda precisávamos de mais organização. Neste ano conseguimos trazer a sede para Brodowski, com aval da Prefeitura (...) O investimento foi de R$ 250 mil para Federação Paulista de Futebol, somente na categoria de base. Todo o investimento do estádio foi feito de forma particular, por mim e por meus irmãos. Temos alguns patrocinadores que fazem investimentos, mas nada relevante para gerir o clube. Somos um clube particular. A única coisa que a Prefeitura nos ajuda é com o transporte – contextualiza.
Estádio Antônio José Fabbri é a casa do Bandeirante e receberá jogos da Copa São Paulo — Foto: Bandeirante
Atualmente, 22 atletas fazem parte das categorias de base do clube, que oferece alojamento e alimentação aos contratados. Ao todo, a diretoria investe cerca de R$ 70 mil mensais para manter toda a estrutura e seu funcionamento. Os jogadores chegam à Brodowski por indicações de empresários e da própria comissão técnica
– Temos atletas do Brasil inteiro, apesar da maioria ser de a região. São 22 atletas que moram no clube, estudam na cidade e têm acompanhamento do conselho tutelar. Precisamos cumprir uma série de requisitos. Isso é possível por conta do nosso gestor, Marcelo Augusto, que damos todo o aval para que ele possa fazer o necessário – revela o dirigente.
Quem chega para fazer teste, precisa se manter na cidade com o próprio bolso, caso o alojamento estiver sem vagas.
– A comissão técnica tem alguns contatos, que vão mandando os atletas para nós. Ele chega ao clube, fazemos uma avaliação e dependendo do desempenho, é integrado à equipe. Fazemos as captações e temos parceiros empresários que mandam pra gente – conta.
O técnico do Jaburu é Ricardo Quandt, que acumula passagens pelas equipes de base de Coritiba, Athlético Paranaense, Botafogo-SP e Cruzeiro.
Ricardo Quandt, atual técnico do Bandeirante, treinou o Botafogo-SP na última Copinha — Foto: Agência Botafogo
"Rei" do amador
Em 2024, o Bandeirante disputou – e venceu – pelo terceiro ano consecutivo a final do Campeonato Amador do Estado, patrocinado pela FPF. O atual tricampeão da competição coleciona títulos no cenário amador de São Paulo. A explicação para o sucesso, segundo Guilherme Aleixo, está na organização.
– Hoje o investimento é o nosso maior segredo. Disputamos esse campeonato desde quando ele existe. A federação nos trata da mesma forma que clubes profissionais. Captamos muito novos atletas. Antes batíamos na trave por ter elencos reduzidos, em comparação aos times de capital. Foi aí que começamos a mirar jogadores de São Paulo e esse foi nosso segredo. É o que queremos fazer nas categorias de base – confirma.
Presente do Rei
Uma das histórias mais marcantes da história quase centenária do Bande, é um daqueles "rolês aleatórios" que só o futebol raiz pode proporcionar. Um dos diretores do clube na década de 1980, durante a construção do estádio, enviou uma carta para nomes ilustres do mundo político, empresarial e artístico do Brasil, para pedir ajuda na construção do alambrado do novo estádio. E conseguiu.
Entre os investidores do estádio do Bandeirante estiveram o ex-advogado e Ministro da Justiça do governo de José Sarney, Saulo Ramos, além do Rei Roberto Carlos.
– Um dos diretores da época enviou uma carta para algumas pessoas influentes, para pedir que elas fizessem doações para construção do alambrado do campo. As pessoas que doaram foram a empresária Maria Pia Matarazzo, o advogado Saulo Ramos, que nasceu em Brodowski, e o cantor Roberto Carlos – conta Aleixo.
Roberto Carlos, o Rei, ajudou a construir o alambrado do estádio do Bandeirante de Brodowski. — Foto: Evelyn Rodrigues/GloboEsporte.com
Profissionalização
O desejo de criar categorias de base no Bandeirante veio pela organização interna que o clube já tinha por disputar as principais competições amadoras do estado. A profissionalização deve acontecer, mas não tão breve.
– Decidimos ir devagar e sentir primeiro as disputas das categorias de base, já que os jogos tem um custo elevado dentro de casa, já que temos que arcar com ambulância, arbitragem, delegado da partida e afins. É um gasto elevado. No futuro, queremos a quinta divisão para dar uma segunda chance ao atleta sub-20 que não se firmou em nenhuma equipe –projeta.
Bandeirante de Brodowski, campeão amador em 2002, 2022, 23 e 24 — Foto: Raul Ramos/Ag.Paulistão
Atualmente o grande objetivo do Jaburu é revelar um grande atleta para o futebol. Alguns jogadores com passagens pelo clube já integram categorias de base de equipes de grande expressão do futebol brasileiro.
– Já temos garotos formados aqui que foram para Bahia, Santos e Corinthians. É um trabalho muito recente. Estamos correndo atrás do selo formador da CBF, que nos garante a participação em possíveis venda dos nossos atletas. Queremos achar uma revelação e continuar nosso projeto – revela Aleixo.
Bandeirante e Botafogo-SP jogaram no sub-20 em 2024 e se enfrentarão na Copinha de 2025 — Foto: Agência Botafogo
Mesmo com o desejo de avançar às fases finais da Copinha, o dirigente conhece as limitações do Bandeirante, mas entende que o peso da camisa vermelha e branca pode fazer a diferença em momentos decisivos.
– Entraremos para competir. Sabemos das nossas limitações. Nossa comissão técnica é muito competente. Temos um novo técnico, com um currículo muito extenso e estamos confiando muito na equipe que está sendo formada. A expectativa é a melhor possível. Vamos comendo por fora. A gente entende que nossa camisa é muito pesada no futebol amador e estamos chegando agora com as categorias de base – finaliza.
* Colaborou sob supervisão de João Fagiolo e Vinicius Alves