Centenário de Cacilda Becker é celebrado com live do Teatro Oficina, peça online e mostras
Na peça-filme estrelada por Alessandra Negrini, uma mulher enfrentan um estranho e inexplicável processo de metamorfose ao ver seu corpo transformar-se em uma estrutura vegetal. Até 18 de abril, com ingressos a partir de R$ 30, por meio do site Tudus.
No ano de 2121, um grande desastre ecológico destrói o planeta. Não existem mais florestas, e a maioria das espécies foi dizimada. É esse o cenário da nova trama distópica encenada pelo consagrado grupo Os Satyros. Até 25 de abril, com ingressos a partir de R$ 10, por meio do Sympla.
E são justamente imagens inéditas dos bastidores dessa que foi sua última peça, “Esperando Godot”, que vêm à tona agora, neste 2021 que marca o centenário da artista. Registros feitos pelo fotógrafo Amancio Chiodi (veja abaixo), e que mantiveram-se guardados por mais de 50 anos, revelam uma artista vigorosa nos ensaios do espetáculo que delineou uma importante fase do teatro moderno nacional — e que foi a primeira montagem profissional para o texto de Samuel Beckett no Brasil. O material está disponível, a partir desta terça-feira (6/4), no site do Itaú Cultural, que também põe no ar, de maneira gratuita, um catálogo multimídia sobre a trajetória da atriz, com depoimentos em vídeo de nomes como Zé Celso e Eva Wilma, além de curiosidades relatadas por Cuca e Guilherme Becker, respectivamente filho e neto da homenageada.
— Além de grande atriz, Cacilda foi ma das maiores personalidades desse país. Ela atuou politicamente, enfrentou a ditadura militar e transformou a própria casa praticamente num hotel ao receber colegas que eram perseguidos — rememora o neto, detentor de um valioso acervo com figurinos, malas, programas de teatro, fotos e objetos da avó. — Acho que essa memória tem que estar viva. Já tentei montar uma exposição por três vezes, mas isso não foi para frente, e depois perdi o gás... Adoraríamos que um cineasta brasileiro transformasse a vida de Cacilda em filme.
Guilherme ressalta a persona de facetas múltiplas que a avó criou para si. Ele frisa que Cacilda, na verdade, era uma mulher inventada por ela mesma, para que vivesse. O pensamento dialoga, de certa forma, com um poema escrito por Carlos Drummond de Andrade à época da morte da atriz. “A morte emendou a gramática. Morreram Cacilda Becker. Não era uma só. Eram tantas. Era uma pessoa e era um teatro. Morrem mil Cacildas em Cacilda”.
— Os amigos dizem que ela se metamorfoseava em cena. O que eu mais ouvia é que ela não andava, mas flutuava — afirma Guilherme, destacando um comportamento curioso da avó. — Ela era extremamente disciplinada: chegava ao teatro três ou quatro horas antes de cada sessão, e ficava repassando o texto no palco, numa espécie de transe em que ninguém conseguia interrompê-la.
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O diretor Zé Celso recorda-se que, não à toa, Cacilda era descrita como uma “atriz fisiológica” pelos críticos da época. Acima de tudo, a artista era um fenômeno, ele enaltece, dizendo que a atriz “vivia” em vez de “interpretar”.
— Cacilda magnetizava o público inteiramente. Ela tinha uma eletricidade no corpo...! Diziam até que tinha um pulmão só, porque ela falava com muita emoção, e era muito alegre, abusando das exclamações. Foi uma mulher apaixonada. Nunca vi nada parecido com ela — exalta o fundador do Teatro Oficina e autor da peça “Cacilda”.
Aliás, as cerca de 900 laudas do espetáculo que recompõe a história da artista, e que foi encenado em 1998 com Bete Coelho no papel principal, estão justificadas no próprio texto: “Atravesso mais de mil páginas todas as Cacildas”, diz a personagem homenageada num dos trechos.
Nesta terça-feira (6/4), às 20h, no página do YouTube do Teatro Oficina, haverá uma live com leitura de textos, cenas e vídeos antigos com Cacilda — o arquivo será disponibilizado ao público de maneira perene após a transmissão. Também nesta terça-feira, será exibida a peça de teatro on-line “Viva Cacilda! Felicidade guerreira”, que mescla passagens da obra de Zé Celso com textos da diretora Lenise Pinheiro. Com apresentação gratuita às 19h — no YouTube —, o monólogo com a atriz Isabella Lemos repassa momentos importantes na vida de Cacilda, com enfoque especial a sua atuação política e à maneira com que ela lidava com o lado feminino.
— Ela é uma mulher de grandes escolhas. Soube se doar de uma forma rara. Teve uma vida relativamente curta, mas deixou uma obra gigantesca — celebra Lenise Pinheiro, que planeja uma nova temporada virtual da peça a partir de junho.