Sequência de episódios e declarações minou paciência do ...
Artur Jorge tinha contrato com o Botafogo até o final de 2025 e deveria ser, em tese, bola de segurança para a próxima temporada. Principalmente, após levar o clube ao título inédito da Libertadores e ao tricampeonato do Brasileirão no mesmo ano. Porém, optou por se arriscar no mercado e adotar estratégias para conseguir um aumento salarial, e agora sua história no alvinegro se encerrou. O caminho é o Al Rayyan, do Catar.
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Nas últimas semanas, o treinador português começou a fazer declarações públicas sobre o assédio de outros clubes, dando origem a uma espécie de leilão enquanto ainda estava empregado, mesmo que estas equipes, de Europa e Oriente Médio, não tivessem sido reveladas. A única foi a do Catar, país onde ele chegou ontem para acertar os últimos detalhes do novo contrato.
Inicialmente, Artur Jorge teve o discurso mais determinado sobre uma saída, que foi arrefecendo com o passar do tempo e os últimos jogos da temporada, e passou a ser no sentido de "ter contrato com o Botafogo, mas deixar o mercado ditar o futuro".
O clube tinha a intenção de não perdê-lo e lhe dar uma valorização, para além dos bônus pelos títulos, que já estavam previstos em contrato. John Textor, dono da SAF, teve algumas conversas com Artur. Ontem, porém, o americano desistiu de tentar um novo acordo.
Declarações desagradaram
Conforme apurado pelo GLOBO, vários episódios foram se acumulando e minando a paciência do Botafogo com seu comandante, em diversos setores do clube, desagradando dirigentes e funcionários.
Um dos incômodos veio pela postura de Artur Jorge, ainda em Doha, no Catar — onde o alvinegro disputou a Copa Intercontinental e foi eliminado pela Pachuca —, falando abertamente sobre seu futuro. Entrevistas dadas na reta final do Brasileirão quebraram um pacto coletivo de não falar de propostas e negociações antes do término da competição.
Somam-se a isso a campanha midiática por aumento salarial, antes mesmo de propor o assunto à diretoria do Botafogo, e as entrevistas em Portugal nas últimas semanas, que a diretoria da SAF enxergou como se ele estivesse "distribuindo currículo".
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Ao longo de 2024, o clube permitiu que seu comandante desse poucas entrevistas no Brasil. Porém, de férias na Europa, cedeu exclusivas a um jornal e uma rádio locais, e falou com jornalistas portugueses após as três cerimônias de prêmio e honrarias que recebeu. Isto colocou uma pá de cal na relação.
Mesmo que houvesse uma reviravolta na situação, esta sequência de episódios tornou o ambiente insustentável, não apenas para dirigentes e funcionários, mas também para uma parcela da torcida.
Procurado pelo GLOBO, o estafe de Artur Jorge não retornou os contatos da reportagem. Para que sua saída se confirme, o Botafogo aguarda que o Al Rayyan exerça o pagamento da multa rescisória, no valor de dois milhões de euros (cerca de R$ 12,5 milhões).
Pessoas do Botafogo dizem que a saída de Artur Jorge se assemelha muito à forma que ele deixou o Braga, em abril deste ano, para assumir um trabalho no futebol brasileiro. À época, o presidente do clube português, António Salvador, criticou fortemente sua postura.