Estudo propõe uma nova análise sobre divergências genéticas da cana-de-açúcar
É comum um tipo de plantação ser mais apropriado a se desenvolver em um solo ou clima específico ou até mesmo em determinada região do país, já que o Brasil é continental e tem diversas variações em seu território. A divergência genética entre espécies também é um dos fatores que limitam o desenvolvimento agroindustrial.
Levando em consideração essas questões, o professor João Dutra Filho, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), propôs uma análise sobre a divergência genética da cana de açúcar, buscando genótipos com grande potencial de adaptabilidade e estabilidade. A ideia é elevar a produtividade dos canaviais.
Ele decidiu fazer a pesquisa baseado nos aspectos peculiares da planta. “Fiz esse estudo diante da necessidade de obter novas variedades de cana-de-açúcar com elevado potencial de adaptabilidade e estabilidade, ou seja, que apresentem elevada produtividade nos mais diversos ambientes e tipos de solo. Variedade assim é difícil obter”, explicou.
De acordo com o professor, o estudo é mais uma proposta do que uma metodologia porque ele usa metodologias já existentes. “Utilizamos metodologias como a de modelos lineares mistos, por através dela obtermos valores genéticos de produtividade de cana e de açúcar por hectare. O que fizemos na prática foi usar esses valores genético de adaptabilidade e estabilidade na análise da divergência genética, visando obter novas variedades com elevado potencial de adaptabilidade e estabilidade. Os revisores da Plos One, que é uma revista conceituada internacionalmente, acharam a ideia criativa e original”, afirmou.
João Dutra Filho ainda explicou que, normalmente, as análises de divergência genética são feitas com base em valores fenotípicos de produtividade e outros caracteres. “Isto significa que a influência do ambiente se faz presente e pode causar confundimento nas análises, ou seja, você pode realizar o cruzamento entre indivíduos que são distantes geneticamente simplesmente por influência do ambiente ne expressão da característica. A divergência genética com base em valores genéticos pode-se visualizar quem realmente são os mais distantes geneticamente”, ressaltou.
O estudo “Genetic divergence for adaptability and stability in sugarcane: Proposal for a more accurate evaluation” foi publicado na Plos One e avalia a cana-de-açúcar aos 16 meses, na hora da colheita, levando em consideração características de toneladas por hectare, toneladas de açúcar produzidas por hectare e ainda o percentual de sacarose no caldo. A análise é feita de forma livre da ação externa do ambiente e o resultado do estudo chegará a longo prazo.
“Vamos implantar a metodologia e observar a produtividade dos novos genótipos nos mais diversos ambientes. Esperamos obter maior número de genótipos com elevado potencial de adaptabilidade e estabilidade, aumentando a produtividade dos canaviais”, pontuou o professor João Dutra Filho.
O estudo notou que, quando a avaliação da divergência genética é feita de acordo com a aparência da cana-de-açúcar, isso pode confundir as análises estatísticas porque os genótipos mais divergentes são influenciados pelo ambiente. Já sem a influência dos fatores ambientais, a precisão da análise é ampliada, levando à verificação de quais genótipos são mais similares ou distantes geneticamente, como explica o autor da metodologia.
Desta forma, é possível realizar o cruzamento com maior precisão e mais chances de ter novos genótipos com mais produtividade e características favoráveis. O estudo mostra que os resultados positivos de programas de melhoramento dependem da realização de cruzamento entre genótipos não aparentados. O professor ainda afirma que a nova metodologia não vai resolver todos os problemas dos programas de melhoramento genético, mas é uma opção a ser explorada.
Luciana Morosini