'Papai Noel' entrega presentes por delivery durante pandemia, na PB: 'Mudou muita coisa'
Papai Noel entrega presentes por delivery para crianças durante pandemia, na PB — Foto: Evaldo Medeiros/Arquivo pessoal
Levar a magia do Natal para todos os cantos do mundo é a missão de uma das figuras mais queridas do Natal, o Papai Noel. Evaldo Medeiros, de 47 anos, interpreta o bom velhinho em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, e levou a sério propósito do personagem. Pela primeira vez em 16 anos, ele deu folga ao trenó, onde recebia os baixinhos, e passou a entregar os presentes das crianças na própria motocicleta, com a adoção dos protocolos de prevenção à Covid-19.
A mudança no trabalho de Evaldo é reflexo dos impactos causados pela pandemia do novo coronavírus, que teve início em março. Sem abraços e com os sorrisos escondidos por baixo das máscaras, oferecer o serviço no formato delivery foi a alternativa que ele encontrou para não deixar de levar esperança e enxergar o brilho no olhar dos pequenos na época considerada como uma das mais encantadoras do ano.
“A gente não pode ficar perto das crianças. Por isso, tive que arrumar uma maneira [para continuar o trabalho]. Antes da pandemia era bom demais. As crianças formavam filas e mais filas para falar com o Papai Noel, levavam as cartinhas, faziam os pedidos e tiravam as fotos. Hoje a gente não pode ter contato. Temos que ficar à distância”, lembrou Evaldo.
O intérprete conta que os contratos natalinos para atuação em shoppings e escolas diminuíram cerca de 70%, o que comprometeu a renda que arrematava no período. Em anos anteriores, ele lembra que não conseguia dar conta da demanda.
Com a nova modalidade, ele não carrega só alegria, mas também uma parceira na garupa da moto. A filha Ellen Porto, de 16 anos, carinhosamente chamada de Noelete, faz as entregas com o pai.
Cada visita dura, em média, de 30 a 40 minutos e pode custar de R$ 200 a R$ 300. Os pais compram os presentes para os filhos e entram em contato com Evaldo para fazer a entrega. Por coincidência, a motocicleta é vermelha, uma das cores tradicionais do Natal.
Intérprete de Papai Noel faz participa de eventos com a filha, na Paraíba — Foto: Evaldo Medeiros/Arquivo pessoal
Evaldo se caracteriza e vai até a casa dos baixinhos, deixa o presente, conversa e tira fotos. Na maioria das vezes não desce do veículo para evitar abraços e apertos de mão, como orientam as autoridades em saúde.
“Quando eu chego na rua [onde a criança mora] todos os carros que passam ficam buzinando. É uma alegria. Pego o presente e levo, a criança fica tão satisfeita”, contou.
Se os baixinhos ficam felizes, Evaldo se sente realizado. É isso que motiva o trabalho dele, que nem pensou em desistir de parar de trabalhar no Natal deste ano.
Pelo contrário, se capacitou por meio da internet em um curso oferecido pela Escola de Papai Noel do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, para atuar de forma segura na pandemia.
Além da moto e da filha, outra parceria firmada durante a pandemia foi com a internet. O intérprete também realiza transmissões na web e envia vídeos para as crianças. Essa é mais uma opção para evitar aglomerações e a propagação do novo coronavírus.
Já as visitas feitas nas escolas da cidade, foram substituídas por eventos no formato drive thru. As crianças vão até a instituição com os pais, conversam e fazem os pedidos ao bom velhinho. Tudo isso à distância, dentro dos carros, sem toques, mas com afeto.
Eventos com Papai Noel em escolas são substituídos por visita em drive thru, em Campina Grande — Foto: Evaldo Medeiros/Arquivo pessoal
“Mudou muita coisa, mas no ano que vem vai melhorar”, destacou.
Além de cuidar dos outros, Evaldo também precisa reforçar a cautela com a própria saúde. A barba que começa a deixar crescer seis meses antes do Natal precisa ser higienizada diariamente.
A troca de máscaras também é feita várias vezes ao dia, já que o figurino quente, intensifica a produção de suor. Mas para ele, tudo vale a pena.
“É uma satisfação tão grande trabalhar com criança, acho que foi o dom que Deus me deu. Estou fazendo o que eu gosto”, reforçou.
Maqueiro trabalha caracterizado como Papai Noel em maternidade, na Paraíba — Foto: Evaldo Medeiros/Arquivo pessoal
Durante todo o ano, Evaldo trabalha como vigilante em uma escola do município e também como maqueiro no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA). No local, ele também veste o personagem. O que faz com que ninguém mais o chama pelo nome, mas só de Papai Noel.
Na unidade de saúde, ele também trabalha caracterizado, conforme o que é permitido. No local, a roupa não é robusta e vermelha. O traje é claro e simples, mas o gorro, os óculos e a máscara dão um toque especial ao look natalino.
“É uma forma de levar alegria para os colegas de trabalho. Não foi um ano fácil”, explicou.
Com tantas mudanças, é impossível para Evaldo não lembrar de outros Natais. Ele compartilha, emocionado, histórias que o tocaram.
Muitos foram os pedidos recebidos, mas alguns não saem da memória. Um deles foi de uma criança que relatou o abandono do pai e pediu para que ele voltasse.
Outro foi de uma menina que escreveu uma cartinha pedindo uma cesta básica. Contagiado pelo espírito solidário do período, ele não se conteve e resolveu ajudar.
“Comprei [a cesta] e fui entregar na casa dela. Cheguei e vi que ela realmente não tinha o que comer. Agora vou deixar lá todo ano”, concluiu.