30 anos sem Cazuza, um artista exageradamente carioca
Há exatos 30 anos, no dia 07 de julho de 1990, a música brasileira perdia um dos maiores nomes de sua história. Agenor de Miranda Araújo Neto, (muito) mais conhecido como Cazuza, falecia aos 32 anos de idade vítima de complicações de saúde causadas pela Aids.
Nascido no Rio de Janeiro e criado na conceituada Zona Sul da cidade, Cazuza sempre fugiu à regra da alta sociedade que lhe cercava, inclusive deixando isso bem explícito na música ”Burguesia”, que encabeça o álbum homônimo lançado cerca de 1 ano antes de seu falecimento. Cazuza era um sujeito do povo, de seus amigos e, principalmente, da gandaia. No Leblon, bairro em que morou boa parte da vida, o cantor era figurinha carimbada na Pizzaria Guanabara, reduto da boemia carioca nos anos 80, e, em 2016, ganhou uma estátua em sua homenagem na praça que leva seu nome, localizada na esquina da Rua Dias Ferreira com Avenida Ataulfo de Paiva.
Ainda na Zona Sul, Cazuza era grande frequentador também das praias locais, como a do próprio Leblon e Ipanema. Além disso, gostava tanto da boate Barbarella (que encerrou suas atividades recentemente), famosa casa de striptease situada em Copacabana, que a citou na música ”Só as Mães São Felizes”.
E falar da relação Cazuza/Zona Sul do Rio também é lembrar do Circo Voador. Consolidada na Lapa, região central – e boêmia – da cidade, a famosa lona, um dos principais espaços culturais do Rio de Janeiro, foi montada, num primeiro momento, na Praia do Arpoador, na Zona Sul. Lá, no verão de 1982, de acordo com a mãe do cantor, Lucinha Araújo, Cazuza entrava de manhã e só saía no fim da noite. Ainda segundo ela, o Circo Voador era a vida do filho e foi lá que o eterno poeta ”nasceu artisticamente”. Em junho de 2015, inclusive, o Circo Voador ganhou um ”revival” no Arpoador justamente para homenagear os 30 anos de lançamento do primeiro hit de Cazuza em sua carreira solo – que falaremos melhor mais abaixo -, ”Exagerado”, lançado em 1985.
Apesar da intensa identificação com a Zona Sul carioca, foi no Rio Comprido, bairro da Zona Norte, que Cazuza deu o pontapé inicial para ser considerado um dos maiores poetas musicais brasileiros. Era lá, na casa dos pais de Maurício Barros (teclado), que a banda Barão Vermelho ensaiava. Fundada em 1981 pelo referido tecladista juntamente a Frejat (guitarra), Dé Palmeira (baixo) e Guto Goffi (bateria), o grupo precisava de um vocalista. Então, Leo Jaime, que seria esse cara mas acabou sendo recusado pelos integrantes devido ao seu timbre de voz não combinar com a sonoridade do grupo, indicou Cazuza. O resto é história. Três discos lançados, hits inesquecíveis como ”Pro Dia Nascer Feliz”, ”Maior Abandonado” e ”Bete Balanço”, turnês por todo o país e um show histórico na 1ª edição do Rock in Rio, em 1985.
Posteriormente, com o sucesso da banda, Cazuza decidiu que era a hora de deixar o Barão e investir na carreira solo. A partir daí, pode-se resumir sua trajetória na emblemática frase ”Meio bossa nova e rock’n’ roll”, trecho de ”Faz Parte do Meu Show”, uma das canções mais conhecidas de sua fase mais MPB. Nesse período, além dessa, nos 6 álbuns de inéditas que lançou, destacam-se músicas memoráveis como ”Codinome Beija-Flor”, ”Ideologia” e ”Vida Louca Vida”.
Para manter acesa a chama viva do filho, Lucinha Araújo criou, pouco tempo depois de sua morte, a Sociedade Viva Cazuza, uma ONG sediada em Laranjeiras, também na Zona Sul do Rio, que atende a crianças e adolescentes portadoras do vírus HIV, prestando assistência de saúde e proporcionando atividades relacionadas à educação e lazer.
Embora tenha estado em lugares diversificados do Brasil e do mundo, a alma carioca de Cazuza sempre prevaleceu. A malandragem – no ”bom sentido” -, tão personificada em sua pessoa, acabou virando nome de música, interpretada brilhantemente por Cássia Eller. E que falta faz Cazuza, que teria atualmente 62 anos. À música brasileira, ao Rio de Janeiro, à boemia peculiar da cidade. Um dos maiores nomes da história artística do país. Exageradamente inesquecível. E que, apesar de não estar mais fisicamente presente, certamente segue vivíssimo. Para ele, o tempo não para.