Análise: discussão no Flamengo sobre técnico e arbitragem é não se aprofundar no que interessa

É possível ver mais um tropeço do Flamengo na caminhada já sem forças no Brasileiro por dois ângulos claros: o da arbitragem, que notadamente prejudicou a equipe com um pênalti não marcado e um impedimento mal assinalado. E o do time em campo, que apesar dos desfalques, não conseguiu superar a Chapecoense virtualmente rebaixada, nem quando teve um jogador a mais no segundo tempo. E vem em queda livre nas últimas semanas em termos de desempenho.
Bola de Cristal:Ferramenta do GLOBO mostra chances de título, risco de queda e outros dados do seu time
Mas para analisar a situação real do trabalho do técnico Renato Gaúcho e do futebol do clube como um todo é preciso ir mais fundo. E a urgência do futebol brasileiro, com uma decisão de Libertadores em menos de três semanas, só permite que se fique na superfície dos problemas que um jogo aponta. E, também, nas soluções inerentes aos resultados. Basta empurrar tudo com a barriga.
O empate em 2 a 2 deixa o rubro-negro 11 pontos atrás do Atlético-MG, que tem um jogo a mais. Segundo o Departamento de Matemática da UFMG, que fornece os dados para a Bola de Cristal do Brasileiro, no site do GLOBO, as chances de título são de 1,3%. Já o time mineiro pulou para 96,6%.
“É um crime o que a arbitragem está fazendo com o Flamengo. Isso que aconteceu aqui na Arena Condá é criminoso. Criminoso! Gaciba, eu quero ver você falar sobre esses lances”, afirmou o diretor Bruno Spindel, do Flamengo, ao canal FlaZoeiro, cobrando posição do chefe de arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba.
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Foi o único posiciomamento mais forte de uma diretoria que se mantém calada, pois sabe que é preciso se concentrar no jogo do ano contra o Palmeiras, pela final da Libertadores. E cientes de que os temas superficiais são a regra e guiados por resultados, o título pode atenuar todo o cenário. Hoje, a realidade é que há um planejamento claro para deixar o Brasileiro como segunda opção. Mas a diretoria eleita para ser campeã de tudo não pode admitir isso publicamente. Também não há ninguém para dar explicações sobre o questionado trabalho da comissão técnica em uma temporada com muitas lesões. Todas as responsabilidades são direcionadas à CBF, a organizadora. E por fim, mas não menos importante: debate-se pouco como a gestão do futebol apostou em um modelo baseado em contratações e mais contratações, de técnicos e atletas. E não em um perfil, uma filosofia de trabalho. Deu errado? Troca o técnico. É o que se pede mais uma vez.
Logo, foi sobre o técnico Renato Gaúcho que ecoaram as vaias e xingamentos da torcida presente na Arena Condá. O Flamengo, ainda que sem Arrascaeta, tinha a linha de frente completa, com Bruno Henrique e Gabigol. Só que pecou novamente na criação para municiar os atacantes. O camisa 9 foi quem deu duas assistências para os gols de Matheuzinho e Michael. Mas ao não conseguir fechar espaços nem se manter com a bola, o time de Renato deixava sua defesa, quase toda reserva, vulnerável. Uma transição defensiva pavorosa para conter o frágil adversário.
Mexidas de RenatoO lance isolado de Matheuzinho que abriu o placar foi mero acaso. O lateral falhou nas jogadas em suas costas da Chapecoense. A virada veio nos pés de Kaio Nunes, mas também nas mãos do goleiro Gabriel Batista, outro reserva em campo. Sem Andreas, suspenso, o meio-campo formado por Arão e João Gomes nem marcou nem criou. Estava acéfalo. Everton Ribeiro não foi nem sombra de outrora e acabou o jogo expulso. Gabigol ainda achou lindo e raro passe para Michael. Mas a bagunça em campo aumentava conforme o tempo passava. Renato Gaúcho repetiu na coletiva que não há tempo para treinar, que os jogadores estão esgotados, que não se repete o time, só se joga, mas ninguém liga.
— Não adianta eu falar que estamos jogando a cada três dias que vão dizer que é desculpa. Mas a realidade é essa. O desgaste é muito grande. Não temos tempo para treinar. Mudamos peças porque os jogadores estão esgotados. Dois jogadores nem deviam jogar hoje e estamos arriscando até perder para o dia 27. São várias cabeças aqui pensando no que é melhor, mas o torcedor pode ficar tranquilo que no dia 27 estaremos inteiros para a decisão — afirmou Renato na coletiva.
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As mexidas de Renato contra um time recuado acumularam atacantes e apostaram nos cruzamentos. Só que pararam no goleiro Keiller, nos erros de passes de um time desentrosado e em um time sem pernas, dependente do talento de seus titulares todos juntos. E aí se criou um outro gatilho de esperança. De que, no dia 27, o Flamengo que tenta não deixar um elenco em frangalhos, chegará na decisão com seus 11 heróis inspirados, independentes de treinador, e o possível mas já improvável tricampeonato da América vai acalmar os corações rubro-negros. Pois torcedor é paixão, e como tal sem obrigação de se aprofundar. A diretoria, por sua vez, conta com isso e pensa na eleição que no dia 4 pode reeleger o presidente Rodolfo Landim.
"Eleições no Flamengo com data definida: 4/12/21, sábado, 8:00 às 21:00. Vamos reeleger Rodolfo Landim e o grupo responsável pela atual gestão do clube", escreveu no Twitter o vice de relações externas Luiz Eduardo Baptista, o Bap, poucas horas antes do empate com a Chapecoense.
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